Assim como dispõe de programas destinados às áreas espacial e nuclear, o Brasil também deveria contar com um amplo programa de desenvolvimento da Amazônia, recomendou nesta quarta-feira (08/07) a diretora do Museu Paraense Emilio Goeldi, Ima Célia Guimarães Vieira. Em audiência pública promovida pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), ela defendeu - juntamente com quatro outros pesquisadores - a transformação da região em uma prioridade nacional.
- O Estado brasileiro investiu muito no estado de São Paulo, que por isso hoje tem esse diferencial. Isto não está acontecendo na Amazônia. Temos ações dos Ministérios de Ciência e Tecnologia, da Agricultura e da Saúde, mas não um programa integrado. Não acredito que apenas com ações setoriais vamos dar o salto de que precisamos - afirmou Ima durante a audiência, que também contou com a participação da Subcomissão da Amazônia e da Faixa de Fronteira, ligada à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).
Integrante do Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Lauro Morhy considerou insuficiente o número de instituições científicas atualmente existentes na região. Em sua opinião, a Amazônia pode ser considerada "motivo de orgulho e de grande responsabilidade ambiental". E o planejamento do desenvolvimento da região deveria contar com vários ministérios, governos estaduais e setores empresariais.
Um exemplo de atuação conjunta mencionado durante a audiência foi o do estabelecimento do modelo de gestão do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), sediado em Manaus (AM). Segundo o coordenador-geral do centro, Imar César de Araújo, representantes de seis ministérios participaram de uma comissão que concluiu pela criação de uma empresa pública - a qual será feita pormeio de projeto de lei a ser enviado ao Congresso Nacional.
A falta de um modelo de gestão, lamentou Araújo, fez com que o centro ainda hoje caminhe com "passos de tartaruga". Mesmo assim, segundo informou, até o final do ano já estarão equipados 90% dos laboratórios do CBA, cujas instalações ocupam uma área de 12 mil metros quadrados. As principais áreas de atuação do centro são as de cosméticos, produtos bioterápicos, inseticidas e corantes naturais. Araújo ressaltou a necessidade de se dar à inovação tecnológica importância semelhante à atribuída à ciência básica. O Brasil tem a 13ª posição na publicação de artigos científicos, disse ele, mas dispõe de poucas patentes sobre a Amazônia e pode ser considerado um "troglodita para transformar conhecimento em dinheiro".
O chefe-geral da Embrapa da Amazônia Oriental, Claudio José Reis de Carvalho, informou que a empresa já conta com patentes de produtos como o cupulate, à base de cupuaçu, que pode ser usado, por exemplo, na merenda escolar. Em sua opinião, é necessária a geração de tecnologias para a produção em áreas já desmatadas da Amazônia.
A diretora do Instituto Evandro Chagas, Elisabeth Conceição de Oliveira Santos, disse concordar com a afirmação de que a manutenção da floresta em pé pode gerar mais receita do que a sua derrubada. Ela pediu atenção, porém, aos pequenos produtores da região, que muitas vezes vivem em áreas isoladas e enfrentam grandes problemas de energia e transporte. "Esses habitantes vivem como heróis na floresta", disse ela.
Nuclear
Pouco antes da realização do debate sobre a Amazônia, a CCT aprovou requerimento do senador Lobão Filho (PMDB-MA) para a realização de audiência pública sobre a crise no abastecimento do insumo radioativo 99MO, que, a seu ver, "poderá paralisar a medicina nuclear brasileira". Também foram aprovados 12 projetos de decreto legislativo que autorizam o funcionamento de emissoras de rádio e televisão em diversos estados.
(Por Marcos Magalhães, Agência Senado, 08/07/2009)