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Floresta nacional Bom Futuro desmatamento da amazônia passivos da pecuária
2009-07-09

Floresta Nacional de Bom Futuro é uma das mais devastadas do Brasil. Na última semana, um carro do instituto foi queimado no local

A megaoperação do Ibama realizada na Floresta Nacional do Bom Futuro, em Rondônia, já rendeu pelo menos R$ 34 milhões em multas ambientais. A maior parte das autuações foi aplicada a agropecuaristas que destruíram grandes áreas de floresta dentro da reserva, que é uma das mais devastadas do país. No início de junho, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e o governador de Rondônia, Ivo Cassol, assinaram um acordo para trocar parte da Floresta Nacional do Bom Futuro, que é federal, por áreas de preservação estaduais. Cassol exigia a permuta para liberar a construção da usina hidrelétrica de Jirau, que irá encobrir parte de uma reserva estadual.

A barganha gerou a expectativa de que a destruição ambiental causada dentro da reserva fosse anistiada, mas não foi o que ocorreu. Uma operação de mais de 300 homens capitaneada pelo Ibama já estava em curso, e não parou. “A operação continua normalmente. Na prática [o acordo entre Minc e Cassol] é uma proposta de encaminhamento. O que vale para a situação da Floresta Nacional é a lei. O trabalho não pode parar por conta do acordo”, afirma o chefe da Floresta de Bom Futuro, Paulo Volnei. Segundo ele, a diminuição da reserva precisa ser aprovada no Congresso para ter efeito.

Desde maio, quando o Ibama chegou à área, 370 criadores de gado foram notificados para deixar o local. “Estamos cumprindo uma decisão judicial que determina que o criador seja notificado e seja dado um prazo de 180 dias. A partir desse prazo, o gado pode ser apreendido”, informa Volnei. “Já saíram muitos animais, mas depois desse acordo, houve uma parada na saída do gado.”

Os fiscais do Ibama também já apreenderam 14 motosserrras, cinco tratores, cinco caminhões carregadores de toras e uma arma de fogo. Para garantir a segurança dos agentes, a operação conta com reforço do Exército, Força Nacional de Segurança e Polícia Militar, que montaram bases nos quatro principais acessos à reserva. A segurança se justifica. No final de junho, o Ibama de Rondônia recebeu uma carta contendo ameaças aos fiscais. “(...) tem muita gente com vontade de resolver isso na bala”, dizia um trecho do bilhete. Dias depois, um carro do instituto foi incendiado dentro da reserva.

Invasão histórica
A reserva de Bom Futuro foi criada em 1988. Segundo Volnei, as primeiras invasões começaram sete anos depois. Imagens de satélite fornecidas pelo Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) mostram que em 1989 a mata estava intacta. “Todo mundo entrou depois da criação, e todo mundo sabendo que a reserva existia”, informa o chefe da reserva.

Atualmente, calcula-se que pelo menos 3 mil famílias e 30 mil cabeças de gado estejam dentro da área que deveria estar protegida. Um levantamento do Sipam revela que, em 2008, a Floresta Nacional do Bom Futuro sofreu um desmatamento de 93 quilômetros quadrados. Somada toda a floresta que já foi derrubada lá ao longo da história, descobre-se que 28% da área de mata da reserva foi embora sobre caminhões de madeira ou nos fornos de carvão.

Volnei, que chefia a área desde 2005, diz que nunca pôde fiscalizar o local, pois as ameaças são constantes. “[Os invasores] já derrubaram pontes, colocaram coisas para furar o pneu dos carros”, confirma o chefe de fiscalização do Ibama em Rondônia, Renê Oliveira.

(Por Iberê Thenório, Globo Amazônia, 08/07/2009)


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