Um padrão climático do El Niño está emergindo ao redor do globo e ameaça contribuir para o aumento das emissões de gases do efeito estufa.
O El Niño é o aquecimento das águas do Oceano Pacífico que afeta os padrões de circulação atmosférica. Os seus efeitos sobre o clima global variam de um evento para o outro. A tentativa de prever como o El Niño será afetado pelo aquecimento global é um grande desafio, alegam cientistas, apesar dos dados demonstrarem que o fenômeno tem sido mais freqüente e mais intenso ao longo das últimas três décadas. O último evento foi em 2006. “Não acredito que existam estudos que dizem que o El Niño se tornará menos severo, mas há discordâncias entre os modelos climáticos sobre se eles se tornarão mais severos ou ficarão estáveis”, comentou Matthew England do Centro de Pesquisas de Mudanças Climáticas de Sidney.
Acertar na previsão é crucial para a agricultura ou mesmo para a indústria do petróleo lidar com os riscos de tempestades. “Certamente sabemos, de acordo com climas passados, que a intensidade do El Niño variou. Com a mudança do clima, sabemos que a intensidade do El Niño pode variar durante longas escalas de tempo”.
O Escritório de Meteorologia da Austrália declarou na semana passada que o El Niño era certo este ano e os sinais apontam para um evento a caminho. Uma das maiores ameaças do El Niño vem da liberação de grandes quantidades de GEEs através da queima de florestas secas.
Cientistas alegam que há uma correlação muito forte entre o El Niño e a seca no sudeste da Ásia, que tem grandes áreas de florestas com solo rico em carbono, as turfeiras. “As pessoas estão esperando pelas condições apropriadas para se livrar das florestas” disse Pep Canadell do Global Carbon Project de Canberra. “Então quanto mais seco o El Niño, mais incentivos existem para as pessoas tirarem vantagem destas condições particulares”, explicou. Grande parte dos incêndios acontece na Indonésia.
Picos de temperaturas
Durante o intenso El Niño de 1997/98, os incêndios do sudeste asiático liberaram entre 2,9 bilhões e 9,4 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, cobrindo a região com uma névoa sufocante. A fumaça foi equivalente a entre 15 e 40% das emissões globais de combustíveis fósseis e foi apontada como a causa dos picos de temperatura. Para efeito de comparação, as emissões anuais de incêndios florestais no sudeste asiático entre 2000 e 2006 foram de 470 milhões de toneladas de CO2, enquanto a média das emissões por combustíveis fósseis para o mesmo período na região foi de 543 milhões de toneladas de CO2, disse Canadell.
Ao longo dos últimos dois anos, as emissões de incêndio florestais caíram graças ao tempo úmido. “Acredito que o próximo El Niño que tivermos aqui no sudeste asiático será enorme em termos de emissões”, disse Canadell, cujo projeto publica relatórios anuais sobre o “orçamento de carbono” do planeta.
Igual, mas diferente
Normalmente, a água aquecida do oceano é acumulada no Pacífico em torno do leste asiático levando chuva e ventos úmidos que fluem sobre partes da Austrália. Durante o El Niño, as águas quentes migram para o leste, em direção à América do Sul, levando umidade e, freqüentemente, causando enchentes na Colômbia, Equador e outros locais. Ainda não está claro qual será a intensidade do próximo El Niño, mas segundo Hendon até eventos fracos podem ter um impacto direto sobre as chuvas, dependendo de onde se encontrem as águas aquecidas.
Cientistas do Instituto de Tecnologia da Georgia (EUA) publicaram um estudo na semana passada demonstrando que o aquecimento periódico do Pacífico Central tem ligação com o aumento de furacões no Atlântico, uma descoberta que pode mudar a maneira como as empresas de petróleo lidam com os riscos de tempestades nas operações do Golfo do México. Anteriormente, pensava-se que o El Niño em geral suprimia a atividade dos furacões, mas as pesquisas mais recentes indicam que isto se aplica apenas aos episódios nos quais as águas aquecidas estão na costa da América do Sul. “O problema fundamental é que não simulamos o El Niño muito bem com os modelos climáticos existentes”, disse Hendon. “Isto torna realmente um desafio rodar o modelo para um clima futuro e ver como o El Niño irá se comportar”.
(Por David Fogarty, Reuters / CarbonoBrasil, 07/07/2009)