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extração mineral fontes alternativas recursos naturais
2009-07-08

Utilizado em motores de carros elétricos e turbinas eólicas, o neodímio, um mineral escasso no planeta, é objeto da disputa pelas tecnologias verdes entre países ricos e emergentes, enquanto os pobres parecem condenados a serem meras testemunhas. O neodímio está no grupo das “terras raras” na tabela periódica de Química. Sua produção e seu uso mostram que as tecnologias verdes são terreno de uma silenciosa competição pelas matérias-primas.

José Luis Giordano, professor associado da Faculdade de Engenharia da Universidade de Talca, no Chile, reconheceu ao Terramérica a disputa entre Estados Unidos, China e Japão pelo neodímio, o samário e o praseodímio, por supercondutores de cerâmica e por uma alternativa a esses materiais, ainda em experimentação. Esses elementos pertencem ao grupo de 15 metais raros, cujas propriedades únicas, como a grande capacidade magnética e resistência às altas temperaturas, os tornam indispensáveis para uma variedade de novas tecnologias que o mundo necessita com urgência para frear problemas globais como a mudança climática.

Os magnetos fabricados com neodímio ajudam na geração de energia em veículos elétricos e na rotação de turbinas dos geradores eólicos. China e Estados Unidos são os maiores produtores mundiais de neodímio, mas a nação asiática é, também, grande fabricante de tecnologias verdes. No começo dos anos 90, materiais raros que a China produzia a baixo preço, como o neodímio, ficaram abundantes no mercado de mineração e seus preços caíram de US$ 11,7 mil a tonelada, em 1992, para US$ 7,43 mil, em 1996, de quase US$ 12 pra US$ 7,4 o quilo. Por influência chinesa, o mercado passou de um tamanho de 40 mil toneladas anuais para um de 125 mil toneladas em pouco tempo.

Em 2006, quase toda a produção mundial destes minerais (137 mil toneladas) teve origem na China. Nos últimos anos, esse país teve como efeito a alta do preço internacional do neodímio, até US$ 60 o quilo, em 2007. Prevê-se que até 2014 a demanda mundial supere as 200 mil toneladas anuais, todas provenientes da China. “Poderá haver em breve uma disputa comercial entre Estados Unidos e China pelo controle da produção de neodímio”, disse a este jornalista o consultor independente Jack Lifton, especializado em Abastecimento de Metais Não-Ferrosos Estratégicos.

Em uma apresentação a legisladores dos Estados Unidos, no dia 29 de janeiro, Mark Smith, diretor da empresa Molycorp Minerals, reconheceu que a “reduzida capacidade manufatureira norte-americana criou uma brecha” e que este país “possui o conhecimento, mas perdeu a infraestrutura necessária”. A Molycorp é dona da mina Mountain Passa, no Estado da Califórnia, a mais rica em neodímio fora de território chinês e que poderia fornecer mais material. A história do desenvolvimento empresarial em torno deste metal demonstra como a China impôs suas condições.

Em 1982, a norte-americana General Motors (GM), Sumitomo Special Metals e a Academia Chinesa de Ciências inventaram um magneto de neodímio, boro e aço. Em 1986, começaram a comercializá-lo pela nova divisão da GM, a Magnequench. Em setembro de 1995, as empresas chinesas Corporação Nacional de Metais Não-Ferrosos, San Juan e Sextant MQI Holdings compraram a Magnequench. Em 1997, surgiu a Neo Material Technologies, fruto da fusão da canadense AMR com a Magnequench. A nova companhia tem sede no Canadá e centros produtivos na China e na Tailândia.

Em maio, duas empresas chinesas investiram em duas mineradoras australianas, Lynas e Arafura – adquirindo metade mais uma das ações da primeira e 25% da segunda – que estão para iniciar as operações de extração e, no primeiro caso, de refino de grandes volumes de metais raros. Lifton acredita que “a China não permitirá aos países ocidentais comprar neodímio para entrega futura fora de seu território nem para uso interno em seu território se for destinado à fabricação de produtos para exportação”.

Isso significa que Pequim poderia endurecer sua estratégia de aquisição de empresas fora de suas fronteiras e que as potências industrializadas e os países em desenvolvimento teriam de buscar outros fornecedores de tecnologias verdes. “Sem reconstruir suas capacidades, os Estados Unidos se converterão, no melhor dos casos, em fonte de matéria-prima para a produção chinesa e não em fabricante de produtos de tecnologia limpa avançada”, prevê Smith.

Até agora, não há alternativas viáveis para os metais raros. A substituição do neodímio é possível nas turbinas eólicas. Esse material reduz o peso do magneto, que será menos rápido com outras matérias-primas. Turbinas mais pesadas exigem bases mais fortes, o que implica mais concreto na torre e maiores custos. Os ímãs de neodímio possuem uma potência magnética nove vezes superior à de um metal convencional. Os mais parecidos, embora mais caros, são os elaborados com samário e cobalto ou com samário, praseodímio, cobalto e ferro, disse Giordano. Nesse campo, “se a pesquisa básica e o desenvolvimento tecnológico não forem premiados e incentivados, inclusive com reservas naturais, se estará condenado a ser importador”, acrescentou.

Para Lifton, “os países ricos não o são apenas pelos recursos naturais, mas precisamente por terem investido em pesquisa e desenvolvimento. É muito improvável que haja mais avanços econômicos tanto em magnetos como em baterias, devido aos limites da oferta de neodímio e de lítio. De fato, poderíamos ter de, em breve, voltar ao uso de aço e alumínio se a demanda por aparelhos com essas tecnologias continuar crescendo”.

Desde 1987, existem pesquisas com semicondutores e ultracondutores (materiais que conduzem a eletricidade) elaborados com polímeros, mas nenhum produzido de forma maciça. Caracterizam-se por sua alta capacidade de transmitir energia, durabilidade e resistência a altas temperaturas. “A menos que a produção de tecnologias verdes seja apoiada fora da China por uma maior e nova exploração mineradora na América do Norte, África e Austrália, o único lugar para fabricá-las será a China. Porque se esse país optar por não exportar metais raros, não haverá outro lugar possível para produzir as tecnologias verdes”, prevê Lifton.

(Por Emilio Godoy*, Terramérica / Envolverde, 22/06/2009)

* Este artigo é parte de uma série produzida pela IPS (Inter Press Service) e pela IFEJ (Federação Internacional de Jornalistas Ambientais) para a Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (www.complusalliance.org).


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