O último levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais mostra que, das 86,5 milhões de toneladas de resíduos industriais geradas por dez estados em 2007, mais de 3,7 milhões foram de resíduos perigosos. A geração diária de rejeitos industriais em todo o país é estimada em 150 mil toneladas, volume semelhante ao dos resíduos urbanos. Logo, reduzir a produção e reaproveitar materiais é o caminho para evitar a saturação de aterros e lixões e a contaminação de solo e água.
Nessa direção, o Brasil ganha quarta-feira (08/07) a primeira “bolsa nacional” para negociação de resíduos industriais recicláveis. O sistema funcionará a partir de uma página na Internet, onde empresas de todo o país informarão gratuitamente o tipo e quantidade de materiais que desejam vender, comprar ou doar. Num primeiro momento o serviço estará disponível para Bahia, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraná e Pernambuco. Depois, poderá ser acessado no Rio Grande do Sul, São Paulo, Ceará, Santa Catarina, Sergipe, Espírito Santo e Alagoas.
A bolsa nacional será hospedada pela Confederação Nacional da Indústria, que pretende reunir pelo menos dez mil empresas no sistema até o fim do ano. Ele pode ser conferido aqui.
O sistema nacional integrará mecanismos estaduais, funcionando de maneira semelhante ao da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A bolsa estadual foi criada em 1985 e opera há sete anos pela Internet, ajudando no contato regional entre empresas. Isso minimiza os custos de transporte, principal entrave para negociações entre pontos mais distantes no país. Há 2.100 empresas cadastradas no sistema da Fiesp, de 24 estados. A liderança em negócios fica com o interior paulista, seguido por Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná.
Conforme o diretor de Meio Ambiente da Fiesp, Nelson dos Reis, a bolsa mostra que resíduos não são lixo e que o empresariado está despertando para as possibilidades de negócios e redução de custos com a reciclagem. Ainda segundo ele, muitas parcerias empresariais se consolidam através do sistema, estabelecendo processos industriais duradouros de troca ou comercialização de materiais recicláveis. “Agora, teremos uma rede nacional de comunicação entre geradores e compradores de resíduos. Isso vai melhorar o desempenho ambiental da indústria, facilitando o aproveitamento dos resíduos“, disse.
A bolsa paulista é mais procurada atualmente por indústrias (46%), recicladores (26%) e intermediários (20%). Conforme informações da Fiesp, micro e pequenas empresas somam 82% dos registros na bolsa, seguidas por médias (12%) e grandes (6%). Até resíduos carnavalescos já passaram pela bolsa paulista, que acumula uma centena de acessos diários e apenas intermedia as negociações. O balanço anual mostra que 66% dos produtos são ofertados e 34% procurados, incluindo plásticos, químicos, metais, borracha, madeira e mobiliário. O estado de São Paulo gera mais de 26,6 milhões de toneladas anuais de resíduos industriais.
O estabelecimento da bolsa nacional e a consolidação de iniciativas estaduais também manterão dinheiro no bolso da indústria. Conforme a Fiesp, o descarte em aterro regularizado custa de R$ 150 a R$ 300 por tonelada; a incineração, de R$ 2.000 a 3.000; enquanto o co-processamento (queima em fornos de cimenteiras, por exemplo) de R$ 500 a R$ 600 a tonelada.
O diretor-executivo do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), André Vilhena, aplaude a iniciativa, mas adverte que será necessário controle para conter a especulação de preços, ou seja, pressão para redução de preços de grandes compradores sobre pequenos vendedores de dependem de capital de giro para fechar as contas mensais, por exemplo. “A princípio a bolsa é boa porque colocará em contato quem quer comprar e vender, mas ela deve ter um controle muito bom para se minimizar esse tipo de problema”, alertou.
Vilhena também lembrou que, enquanto a indústria se movimenta e a geração de resíduos de todos os tipos cresce no país, o projeto da lei nacional sobre resíduos sólidos amarga 18 anos de tramitação no Congresso. “É tempo demais”.
(Por Aldem Bourscheit, O Eco, 07/07/2009)