Modelo em estudo adota logística semelhante à da Petrobrás e elimina necessidade de construir vilas para operários
Resolvidos os entraves técnicos e ambientais da Usina de Belo Monte, o governo se esforça agora para desenvolver a próxima fronteira energética do País: o complexo Tapajós, no Pará, com potência estimada de 10,7 mil megawatts. A previsão é de construção de cinco usinas, duas delas no Rio Tapajós, que seguirão um conceito inovador: o de usinas-plataformas, projeto inspirado na logística utilizada pela Petrobrás em suas operações na Bacia de Campos.
Segundo o governo, esse conceito elimina a necessidade de construção de vilas no entorno das usinas, o que reduz o risco de desmatamento. Os funcionários serão levados de helicóptero para o trabalho, onde ficarão por períodos mais longos. No caso das plataformas da Petrobrás, os turnos são de 14 dias. Para as hidrelétricas, ainda não há definição sobre o tema.
As usinas-plataformas, montadas sem a necessidade de abertura de estrada ou grandes desmatamentos, são montadas com os equipamentos levados por via fluvial ou por helicópteros. Da mesma forma são transportados os operadores. Esse modelo foi defendido algumas vezes pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. "Não tem cidade, não tem estrada, não tem madeireira. Então você monta uma indústria, as pessoas vão e voltam de helicóptero. É muito promissor", declarou Minc, em novembro do ano passado. Há hoje um acordo com o Ministério de Minas e Energia para que as novas usinas da Amazônia sejam desenvolvidas com esse conceito.
O inventário da bacia do complexo de Tapajós já foi entregue à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a ideia é terminar os estudos até o fim de 2010, para que o primeiro leilão possa ser realizado no ano seguinte. O conjunto é considerado prioritário pelo presidente da Eletrobrás, José Antônio Muniz, que já anunciou a disposição de lançar um programa de capacitação de mão de obra para gerir as usinas. "Estamos trabalhando em um grande programa para formação de recursos humanos para atender os novos sistemas", afirmou o executivo em evento realizado na semana passada.
Potencial
O inventário, que inclui o Rio Jamanxim, detectou sete aproveitamentos hidrelétricos, com uma potência superior a 14 mil MW, mas somente cinco entrarão no projeto. Avaliação técnica indicou que os dois restantes reduziriam a potência das outras usinas. Duas hidrelétricas estão no Rio Tapajós e três no Jamanxim, todas próximas ao município de Itaituba, no Pará.
A primeira a ir a leilão deve ser São Luiz do Tapajós, com potência de 6,133 mil MW, já incluída no Plano Decenal de Energia 2008-2017, com início de operações previsto para janeiro de 2016. A outra usina do Rio Tapajós é Jatobá, com 2,338 mil MW. No Jamanxim, devem ser instaladas as usinas Cachoeira do Caí (802 MW), Jamanxim (881 MW) e Cachoeira dos Patos (528 MW).
O estudo de viabilidade do projeto está a cargo da Eletronorte, que realizou na semana passada uma audiência pública em Itaituba. A cidade é cotada para servir de base para a operação das usinas. No caso do Tapajós, as usinas-plataformas já são citadas pela Eletrobrás como uma das vantagens do projeto, "que oferece condições de conciliar meio ambiente com geração de energia", diz vídeo da empresa sobre o complexo.
A região onde estarão as usinas tem 200 mil quilômetros quadrados de áreas de preservação, área equivalente aos Estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Sergipe juntos. São 22 unidades de conservação, além de terras indígenas e da área militar da Serra do Cachimbo. Segundo a empresa, quase toda a área desmatada para a construção das barragens será reflorestada, mantendo as intervenções em um nível mínimo. Não haverá abertura de estradas, o que elimina o risco de abrir acesso a madeireiras e à agroindústria. A área alagada, porém, é grande: são quase 2 mil quilômetros quadrados de reservatórios, ou cinco vezes o espelho d'água da Baía de Guanabara.
A Eletrobrás, porém, já tem seus argumentos para evitar críticas sobre os impactos ambientais. Segundo dados da empresa, o complexo terá capacidade para gerar 50,9 milhões de megawatts-hora (MWh) por ano, o equivalente ao consumo de 30,5 milhões de barris de petróleo. A preços de hoje, portanto, há uma economia estimada em cerca de US$ 2,1 bilhões em petróleo.
(Por Nicola Pamplona, O Estado de S. Paulo, 05/07/2009)