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parque marinho de abrolhos recursos costeiros br proteção da vida marinha
2009-07-05

Além de detalhar bancos de coral em torno do arquipélago no sul da Bahia, projeto revelou novos tipos de ambientes. Novas descobertas reforçam necessidade de colocar área maior sob proteção legal para preservar espécies relevantes, dizem biólogos

As águas que já tinham o título de ecossistema mais diverso do Atlântico Sul são ainda mais ricas do que se pensava, mostra um levantamento inédito. O novo mapa biológico da região do arquipélago de Abrolhos, no litoral sul da Bahia, indica que seus recifes de corais são apenas um dos cinco tipos de ambientes submersos na área. Maior levantamento oceanográfico já feito ali, o mapa é fruto de mais de dois anos de trabalho de 40 cientistas afiliados a 14 instituições nacionais. O grupo vasculhou quase 40 mil km2 da chamada plataforma de Abrolhos -um tipo de tabuleiro submarino com área igual à do Estado do Rio de Janeiro.

Os biólogos da equipe, auxiliados por um robô mergulhador, revelaram cenas inéditas dos outros quatro subsistemas da região. Se faltam ainda várias informações sobre o funcionamento desses novos ambientes, que serão processadas nos próximos meses e anos, a nova geografia de Abrolhos já está pronta, dizem os cientistas. A área conhecida agora é igual a sete vezes a anterior.

Uma das principais atrações do novo mapa são bancos de algas calcárias, os rodólitos, que se estendem ao longo da borda da plataforma. Segundo Paulo Sumida, pesquisador do Instituto Oceanográfico da USP, esses locais servem de refúgio para corais de águas rasas. A hipótese do grupo é que os corais de Abrolhos, quando enfrentam pressões do ambiente (naturais ou causadas pelo homem), acabam migrando para profundidades superiores a 20 metros, colonizando os bancos de algas. "Nessa profundidade já existem bancos de corais formados", diz o cientista.

De acordo com Sumida, não é apenas o refúgio de rodólitos que surpreende, mas todos os novos ambientes identificados pelo Projeto Pró-Abrolhos. Outras formações inusitadas são as chamadas "buracas". São fossas em forma de cone que aparecem na parte externa da plataforma de Abrolhos e que são um mistério até mesmo para os geólogos que as viram. "Elas começam a 70 metros de profundidade e podem chegar a ter 20 metros de fundura por um diâmetro de algumas dezenas de metros", diz Sumida. Enquanto a borda dessas estruturas é rica em vida marinha, no interior desses cones invertidos não há oxigênio. Só bactérias vivem ali.

Para dentro da plataforma, na direção da costa, aparece o "mar de cabeças". O meio da plataforma de Abrolhos é coberto de areia carbonática. Aos olhos dos desavisados, um grande deserto. Porém, no meio disso, brotam aqui e ali colunas de coral de 50 metros de diâmetro por até 20 metros de altura que também abrigam fauna, que os cientistas chamaram de chapeirões.

Pressões
E mesmo na zona mais costeira, novidades. "É uma zona repleta de sedimentos terrígenos, trazidas pelos rios da região", diz Rubens Lopes, professor e pesquisador do IO/ USP e um dos coordenadores do projeto Pró-Abrolhos. Essa grande quantidade de terra que está no mar, além de um processo natural, também é carreada porque, no continente, existe agricultura, atividade humana que pode ser bastante prejudicial ao ambiente.

Todos esses achados, desconhecidos até agora da comunidade científica, reforçam a importância ecológica da área, explica Lopes. "No mínimo, serve para mostrar que o uso da área precisa ser analisado como muito cuidado", diz. O Parque Nacional Marinho de Abrolhos, criado em 1983 -o primeiro do gênero no país-, cobre apenas 2% de toda a plataforma estudada.

De acordo com os pesquisadores que revelaram esses novos ambientes de Abrolhos, não há dúvida de que os novos dados tornam a região ainda mais complexa e delicada. Aquela parte do litoral sul da Bahia é cobiçada tanto pelos criadores de camarão, que querem tomar conta das áreas mais próximas ao litoral, quanto pela indústria do petróleo. Blocos para a extração do mineral já entraram em licitações anteriores feitas pela ANP (Agência Nacional do Petróleo). Acabaram retirados do processo, porém, por decisão de autoridades ambientais. Pelo menos por enquanto, disse a agência à Folha, não existe previsão de que essas áreas sejam licitadas.

(Por Eduardo Geraque, Folha de S. Paulo, 05/07/2009)


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