Proposta tem aprovação de ambientalistas, mas divide os motoristas

O costume de lavar a calçada ou o automóvel em via pública com água potável poderá ser proibido. Está tramitando na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa do Estado um projeto que torna as duas práticas ilegais. Autor da ideia, o deputado Giovani Cherini (PDT) diz que está preocupado com o desperdício de água e a preservação do ambiente. Apresentado em 2006, o projeto não estabelece quem fiscalizará a proibição e quais serão as punições para os infratores. Cherini informa que essas medidas deverão ser definidas pelo Poder Executivo, se o projeto for aprovado.

Entre os motoristas, o projeto causa diferentes reações. Presidente do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre (Sintaxi), Luiz Nozari lembra que os 3.925 automóveis na praça precisam estar impecavelmente limpos, por exigência da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). Nozari diz que taxistas chegam a higienizar seus carros a cada 24 horas, para não serem punidos. Muitos vão a postos de lavagem expressa, mas outros fazem o serviço em casa ou na frente dos prédios onde moram, para economizar.

– Pessoalmente, sou contra o desperdício de água potável, quero deixar um planeta melhor para os meus filhos e netos – diz Nozari.

Uma dúvida inquieta motoristas como o empresário Márcio Buzatto, 29 anos, de Porto Alegre. Se levar o carro para uma empresa de lavagem, o consumo de água não será igual ou até maior? Eventualmente, o próprio Buzatto limpa o seu automóvel, no bairro Medianeira, para economizar.

– Tenho o máximo cuidado com o consumo de água – assegura.

Movimento de Donas de Casa aprova proposição
Flanelinhas que lavam carros a pedido de clientes estão preocupados. Nesta sexta (03/07), Victor Soares, 27 anos, limpava uma camioneta na Rua 20 de Setembro, no bairro Azenha. Consegue R$ 5 por lavagem, usando um balde de água para cada carro.

– É o meu ganha-pão – argumenta Soares.

Quem apoia irrestritamente o projeto é o Movimento das Donas de Casa e Consumidores do Estado. A presidente da entidade, Edy Maria Mussoi, destaca que a restrição é duplamente benéfica: alivia o orçamento doméstico e ajuda na sobrevivência do planeta. Ela sugere que as patroas e as faxineiras se conscientizem, trocando a lavagem com mangueira pela varrição da calçada.

– A água é um bem finito, não está à nossa disposição para sempre – diz Edy, lembrando que os moradores de Bagé, na Fronteira Sul, padecem de racionamento há décadas.

Dona de casa no bairro Azenha, na Capital, a telefonista Maria Souza, 45 anos, já aboliu a lavagem da calçada. A única dificuldade é quando a cachorra de estimação faz cocô na laje do pátio. Se não consegue remover a sujeira com papel, Maria Lúcia diz que usa um detergente. Ambientalistas também se aliam ao projeto. O presidente da Sociedade Amigos da Água Limpa e do Verde (Saalve), geólogo Carlos Marchiori, diz que o líquido da torneira não é para limpar calçada e carros. Fernando Costa, da Núcleo Amigos da Terra, lembra que as pessoas devem adotar o consumo ecológico, como aproveitar a água da chuva para certas tarefas.

O que diz o projeto
- Proíbe a utilização de água potável para a varredura de calçadas e a lavagem de automóveis em vias públicas.
- Abre exceção apenas quando houver risco de material contagioso ou que ameace a saúde.
- A fiscalização e as punições aos infratores serão definidas posteriormente.

A tramitação
O projeto está sendo analisado pelo deputado Francisco Appio (PP), da Comissão de Constituição e Justiça do Legislativo. O parlamentar pediu vistas para examinar alguns pontos que não lhe pareceram suficientemente claros, como a questão da fiscalização e das punições.

Appio considera a ideia meritória, por cuidar do ambiente, mas acha que há detalhes a aperfeiçoar. O deputado pretende encerrar o seu estudo na terça-feira (07). Depois de aprovado pelos integrantes da Comissão de Constituição e Justiça, o projeto irá para a comissão de Serviços Públicos.

(Por Nilson Mariano, Zero Hora, 04/07/2009)