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cana-de-açúcar passivos do agronegócio áreas contaminadas
2009-07-03

Uma das culturas que mais impactos negativos tem gerado desde seu começo até hoje em nosso país é a cana-de-açúcar. As plantações de cana foram estabelecidas nas Planícies do Pacífico, uma área rica devido à fertilidade do solo de origem vulcânica e à quantidade de água que recebe da chuva e dos rios que nascem na cadeia vulcânica. Tais condições foram perfeitas para o desenvolvimento da cultura e da expansão dos engenhos açucareiros; hoje em dia a Guatemala é o quinto colocado como exportador de açúcar em nível mundial e o segundo como produtor na América Latina e o Caribe. Atualmente operam 14 engenhos açucareiros, em 2007 as plantações de cana-de-açúcar ocupavam 216 mil hectares cultivados, uma extensão aproximada ao tamanho do departamento de Guatemala (225.300 hectares) que é significativo para o tamanho de nosso país. (108.889 km2).

Um dos problemas mais graves gerados pela monocultura da cana é a destruição total dos ecossistemas onde é estabelecida, sendo que na Guatemala tem significado a desaparição de vastas áreas de florestas. A isso acrescenta-se o uso exagerado de água, fato que afeta as comunidades humanas e gera impactos diretos e indiretos nos ecossistemas terrestres e marinho-costeiros. A queima de cana-de-açúcar polui o ambiente, afeta a saúde das populações locais e libera CO2, um dos gases de efeito estufa. A queima destas plantações, ano após ano, contribui ao aquecimento global. Na época da colheita, os engenhos açucareiros desviam os rios para suas plantações, e neles despejam seus detritos, deixando as comunidades sem água.

Na época das chuvas os canais e valas, abertos para as plantações serem irrigadas, levam a água para o interior e provocam enchentes, colocando muitas comunidades em situação de risco e vulnerabilidade. A isso acrescenta-se a poluição gerada pelo uso excessivo de agroquímicos, pesticidas e maduradores que através dos rios são transportados rumo aos ecossistemas marinho- costeiros, como o manguezal.

Um dos problemas que deve enfrentar a indústria açucareira é a quantidade de terra disponível para expandir a monocultura. Conforme declarou Armando Boesche, gerente da Associação de Açucareiros de Guatemala (Asazgua), em 2007, “Já não há disponibilidade de terras porque o limite já foi atingido”. Esta situação tornou-se uma ameaça para os ecossistemas e as comunidades locais e é delicada em um país onde os conflitos territoriais têm gerado guerra, sumiços e morte.

Um exemplo claro da falta de terra foi o traslado do Engenho Guadalupe, em 2006, para o Vale do Rio Polochic, em Izabal, próximo ao refúgio de vida silvestre e sítio Ramsar Bocas del Polochic. Esta situação ameaça direta e indiretamente a zona úmida e a vida silvestre devido ao desvio de rios e ao uso de produtos agroquímicos que através das chuvas e do escoamento fluem para o rio com o risco de aumentar o crescimento da planta invasora, Hydrilla verticillata, que há vários anos está presente na área.

No sul, porém, não parece que as plantações de cana tenham atingido “o limite”, já que continua sua expansão, com o desmatamento das últimas árvores e florestas ribeirinhas que protegem os leitos dos rios e o impacto sobre espécies ameaçadas como o papagaio de nuca amarela (Amazônia O. Auropalliata) que está em sério perigo de extinção. A fronteira açucareira chegou à beira dos manguezais e em locais como Iztapa e Hawai, duas áreas que ainda conservam este ecossistema ameaçado, as plantações chegam até seus limites produzindo um fenômeno de isolamento e pressão.

Na Guatemala não foi feita nenhuma avaliação dos impactos cumulativos destas monoculturas, que afetam tanto as comunidades vizinhas quanto os ecossistemas locais. Enquanto isso, as pessoas continuam adoçando bebidas e alimentos, desconhecendo os amargos impactos desta monocultura para a natureza e as comunidades.

(Por Carlos Salvatierra, SAVIA / Ecodebate, 29/06/2009)


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