Chamada “Plantas raras do Brasil”, a obra – produzida por 175 cientistas de 55 instituições nacionais e internacionais – lista 2.291 espécies de plantas que só ocorrem no território nacional. Para os pesquisadores, todas as plantas listadas no livro são consideradas ameaçadas, seja por queimadas, desmatamento ou urbanização. A lista oficial das espécies ameaçadas da flora brasileira, apresentada em 2008 pelo Ministério do Meio Ambiente, relaciona 472 espécies em perigo.
A publicação, resultado de uma parceria entre a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, e a organização ambientalista Conservação Internacional, aponta também 752 áreas de relevância biológica. Elas são consideradas estratégicas para a preservação da biodiversidade do país, que possui 15% da flora mundial. Por isso, são chamadas de áreas-chaves para a biodiversidade (ACBs).
O livro – cujo lançamento oficial acontecerá nesta quinta-feira (02/07), em Feira de Santana, durante o 60 Congresso Nacional de Botânica – traz outro alerta: metade dessas áreas, que cobrem 16% do território nacional, o equivalente a 140 milhões de hectares, está degradada.
- Quando se discute como combinar desenvolvimento e preservação, é fundamental termos informações confiáveis sobre a biodiversidade do país – diz José Maria Cardoso da Silva, da Conservação Internacional.
Confiáveis, mas conflitantes. Segundo o representante da Conservação Internacional, as diferenças entre os números apresentados no livro e aqueles listados pela MMA se devem ao que chama de “estratégia conservadora” do ministério.
- Na época da divulgação da lista do MMA, já houve contestação desse número de apenas 472 espécies ameaçadas – diz ele, explicando por que classifica espécies raras como espécies ameaçadas. – Nosso critério foi aceitar que se essas plantas são raras elas estão automaticamente em perigo, já que a pressão é muito grande.
A Região Sudeste é a que concentra o maior número de espécies de plantas ameaçadas, com $para os estados de Minas Gerais (550) e Rio de Janeiro (250), respectivamente primeiro e terceiro lugar da lista. A Bahia (484) vem em segundo lugar. A maior parte das plantas está no domínio da Mata Atlântica, onde vivem cerca de 70% dos brasileiros e cuja área original foi reduzida a 7,26%.
- Como há uma grande variação ambiental no país, as estratégias para a conservação dessa flo$têm que incluir grandes áreas protegidas – afirma Cardoso. – No caso da Mata Atlântica, ela exemplifica uma distribuição urbana que ocorreu sem critério.
Biodiversidade da Bahia se destaca
Para contrapor isso, existem as chamadas áreas-chaves. Pela Convenção da Diversidade Biológica, da qual o Brasil foi um dos primeiros signatários, há o compromisso global de se chegar a 2010 com pelo menos 10% do planeta em áreas protegidas.
- Dificilmente o Brasil vai contribuir para que essa meta seja atingida – assegura o representante da Conservação Internacional. – Mais da metade desses corredores da biodiversidade está degradada. Na verdade, 75% dessas áreas-chave têm menos de 10% de proteção, ou seja, estão em áreas protegidas, sejam parques, reservas, terras indígenas ou Reservas Particulares de Proteção Natural.
Segundo a publicação, que vai virar também um site (www.plantasraras.org.br ), a Bahia, que tem o segundo maior número de plantas raras (e ameaçadas), é também o estado com o maior número de áreas estratégicas.
- Isso ocorre devido à grande complexidade biológica da Bahia, onde há Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado – explica Cardoso. – O ideal era que cada estado tivesse uma política de preservação e o governo federal atuasse como um maestro dessas ações. Se nada for feito, vamos ter uma megaextinção de plantas brasileiras.
(Por Carlos Albuquerque, O Globo / EcoDebate, 02/07/2009)