O primeiro-ministro britânico Gordon Brown anunciou recentemente uma proposta de financiamento às ações necessárias para combater a mudança climática. Ele quer que os países ricos invistam 100 bilhões de dólares por ano até 2020 para ajudar países em desenvolvimento a reduzir suas emissões e combater o desmatamento, além de dar aporte para os mais pobres se adaptarem aos efeitos do aquecimento global.
O primeiro-ministro também propôs a criação de arranjos institucionais para aumentar a participação dos países em desenvolvimento no processo decisório do uso do dinheiro e também melhorar a coordenação entre todas as instituições que lidam com o financiamento para mudanças climáticas. “Todos os países devem agir, mas para ajudar aqueles em desenvolvimento a ter um crescimento de baixo carbono e resistente ao clima, precisaremos de um novo sistema de apoio financeiro para tecnologias sustentáveis, desmatamento e adaptação”, diz Brown defendendo um acordo “ambicioso” para o encontro de Copenhague, em dezembro próximo.
O braço do Greenpeace no Reino Unido mostra ceticismo em relação às declarações do primeiro-ministro. Em nota oficial, a organização diz já ter ouvido histórias como essa e que ficaria mais satisfeita se Brown arregaçasse as mangas e fizesse sua parte para levar a comunidade global em direção a algum tipo de decisão realmente significativa. Para o grupo, a quantia proposta pelo é significativa, mas não passa de um simples trocado se comparada aos trilhões de dólares já destinados aos bancos e corporações. A política doméstica do Reino Unido também foi bastante criticada. O Greenpeace diz que não há bom senso no discurso de diminuir as emissões de carbono no mundo, se no próprio quintal há expansão de aeroportos, construção de novas estações de energia a carvão e pouco investimento em fontes renováveis de energia.
Já a chefe de mudança climática da WWF, Keith Allott, acredita que o governo britânico mostrou que o combate ao aquecimento global deve ser a maior prioridade do mundo. “Gordon Brown deveria ser aplaudido por ser o primeiro líder de um país desenvolvido a reconhecer claramente que não haverá acordo em Copenhague sem uma ajuda financeira substancial aos países em desenvolvimento”, comemora. “O desafio agora é para os outros países desenvolvidos, que deveriam igualar ou, mesmo, melhorar a proposta de Brown”, completa.
Allot diz ainda que se o projeto for realmente implementado, os países desenvolvidos também terão que se comprometer em reduzir muito mais as emissões em seus próprios territórios. “Nossa preocupação é que a proposta do Reino Unido baseie-se muito nos mercados de carbono, disponibilizando recursos financeiros. Mas não há garantia de que isso realmente possa cortar as emissões que tanto precisamos”, conclui.
(Por Henrique Andrade Camargo, Mercado Ético / Envolverde, 01/07/2009)