Nesta semana, corte de árvores e remoção de terra na tradicional chácara dos Eberle revoltaram caxienses
O corte de árvores e a movimentação de terra que estão revoltando vizinhos da tradicional chácara da família Eberle, no Centro, não sinalizam apenas que a cidade perderá mais um pedacinho de sua história e cultura. O entorno da mansão rosa, hoje de propriedade de Cláudio Eberle, neto do imigrante italiano Abramo Eberle, deverá receber dois prédios. Os projetos, aprovados pela Secretaria Municipal de Urbanismo há três anos, preveem a construção de edifícios comerciais e residenciais com 19 pavimentos, de frente para a Rua Alfredo Chaves.
De acordo com o diretor-geral da secretaria de Urbanismo, Nelson Carlos Sartori, os empreendimentos passaram pelo crivo do poder público antes da aprovação do novo Plano Diretor (PD), que ocorreu no final de 2007.
– Eles atenderam a todos os requisitos exigidos pela prefeitura, inclusive licenças ambientais para o corte de árvores. Mesmo não sendo obrigatório, também tomamos o cuidado de consultar na época o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural para nos certificarmos de que o que restou da chácara não estava tombado – explica.
Se o projeto tivesse sido protocolado após o novo PD, provavelmente ele teria de ser alterado porque a lei traz novas regras para construções naquela área, que passou a ser considerada de interesse cultural. A fragmentação da chácara da família Eberle, cuja área original tinha cerca de 47 mil metros quadrados (47 hectares ou cerca de 62 campos de futebol), não é recente. Em 2003, o Pioneiro publicou reportagem mostrando que a área que pertenceu a Abramo Eberle, fundador da Metalúrgica Eberle, foi dividida e distribuída aos herdeiros, na década de 1940. De lá para cá, as duas metades, que ficaram com os filhos de Abramo, Júlio e José, e depois com seus sucessores, foram loteados em partes menores. Algumas deram lugar a prédios residenciais, comerciais e até a um posto de combustíveis.
Dono da área de cerca de 9 mil metros quadrados que inclui a mansão rosa, Cláudio Eberle explica que os prédios serão erguidos por uma construtora que pertence aos filhos dele, portanto, o terreno ainda continua com a família.
– Até agora, apenas uma família aproveitava aquela área privilegiada. A ideia é possibilitar que muitas famílias possam usufruir desse lugar. Não queremos impedir a evolução da cidade – afirma.
Ele salienta que não foi derrubada árvore centenária para as futuras obras, conforme leitores comunicaram por cartas e telefonemas ao Pioneiro.
– São ciprestes ou espécies exóticas plantadas pela minha mãe (Alda) há uns 40 anos. Além disso, tivemos autorização da Semma (Secretaria Municipal de Meio Ambiente) para o corte – justifica o decendente de Abramo Aberle.
(Por Eliane de Brum, Pioneiro, 02/07/2009)