Autoridades da cidade de Buenos Aires e da província de Buenos Aires decretaram ontem estado de emergência sanitária para tentar barrar a disseminação do vírus da gripe suína que já matou 35 pessoas em toda a Argentina. As férias de meio de ano serão antecipadas para a próxima segunda-feira e durarão mais do que o normal. O prefeito da capital, Maurício Macri, pediu que os moradores - particularmente as crianças - fiquem o mais que puderem em suas casas e que evitem lugares onde haja concentração de pessoas. O governo não impôs nenhuma restrição ao funcionamento de bares, restaurantes, cinemas e shoppings. "Pedimos responsabilidade e colaboração. Solicitamos às pessoas que tenham sintomas que fiquem em casa", disse Macri.
O estado de emergência permite ao governo local realocar - com menos travas burocráticas - verba e profissionais de saúde para se dedicarem ao combate e tratamento da gripe suína e também alterar o calendário escolar sem a aprovação do legislativo. Horas depois, o governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli decretou medidas semelhantes. Outras quatro províncias já haviam declarada emergência por causa da gripe.
O governo brasileiro recomendou na semana passada que brasileiros evitem ou adiem viagens para a Argentina e para o Chile, os dois países com o maior número de casos de pessoas contaminadas com o vírus H1N1 na América do Sul. A Argentina tem 1.587 casos e o Chile, mais de 5.186. Uma fonte ouvida nesta terça (30/06) pelo Valor em Buenos Aires disse que nos últimos dias o número de passageiros em voos para a Argentinas procedentes do Brasil já diminuiu sensivelmente.
O reflexo mais visível da decretação de emergência deverá ser na rotina das escolas. As férias de julho na Argentina, que geralmente duram apenas duas semanas e começam no fim de julho, terão início na próxima segunda-feira nas escolas da capital. As aulas serão retomadas só no dia 3 de agosto. "Isto não deve ser encarado como férias adicionais. Contamos com a responsabilidade das famílias para evitar novos contágios", disse Macri. "Estamos preocupados e fazendo o necessário para controlar o vírus." Ele pediu que a população mantenha a calma.
O governo admite que os hospitais estão tendo alta procura, mas afirma que não estão "saturados". Muitos dos casos de gripe do vírus H1N1 foram registrados em bairros de classe média baixa, muito populosos, e nas favelas que circundam Buenos Aires. Na segunda-feira, a ministra da Saúde argentina renunciou em meio à multiplicação de casos de gripe no país, após tentar disputas políticas e após tentar sem muito apoio do governo federal administrar medidas para deter o contágio.
O aumento do número de pessoas infectadas com a gripe suína na Argentina já tem impacto nas relações comerciais do país. Ontem, circulavam informações de que a Rússia teria suspendido as compras de carne suína da Argentina temendo possível contaminação do produto com o vírus da nova gripe. Os russos ainda teriam tomado a mesma medida em relação ao Chile, onde o número de casos da doença também avançou nos últimos dias. Quando surgiram os primeiros casos de contaminação com o novo vírus nos EUA, a Rússia também proibiu as importações de carnes do mercado americano.
A Rússia é o principal mercado para a carne suína do Brasil e adquire mais de 50% do que o país exporta. Até maio, as vendas brasileiras de carne suína para o exterior não foram impactadas pela gripe. Mas há temor, entre exportadores, de que isso ocorra, já que o número de casos da doença disparou no Brasil. Dessa forma, restrições de países importadores não estão descartadas.
(Valor Econômico, 01/07/2009)