Depois da denúncia, Greenpeace critica falta de diálogo
O compromisso do BNDES com a pecuária acontece quase um mês depois que o Greenpeace e o Ministério Público do Pará denunciaram, em ações simultâneas, no início de junho, que parte da carne e do couro vendida por grandes frigoríficos vem de fazendas que desmatam a Amazônia. As denúncias atingiram também o BNDES, que é acionista de grandes frigoríficos, como Bertin, Marfrig, JBS Friboi e Independência.
Uma semana depois da denúncia, as grandes redes de supermercados se comprometeram a não mais comprar carne proveniente de fazendas irregulares com o Ibama ou o Ministério do Trabalho. Apesar do compromisso, o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda, admite as dificuldades para garantir a origem da carne sem um abrangente sistema de rastreabilidade. "O compromisso é um primeiro passo, mas não há dúvidas de que temos de caminhar para isso (rastreabilidade)", diz.
O presidente do Greenpeace, Marcelo Furtado, lamenta que a reação do setor tenha sido a de desqualificar a denúncia. "Quando fizemos a mesma denúncia para a cadeia da soja, houve uma reação inicial de negação, mas logo nos sentamos para conversar com o setor privado e conseguimos assinar a moratória da soja. Com a pecuária, não há diálogo."
Para o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (Abiec), Roberto Gianetti da Fonseca, os ambientalistas focam suas denúncias nas grandes indústrias, pois "é isso que dá repercussão". "A Abiec representa 30% do setor e trabalha com os mais rigorosos padrões internacionais", diz. "Há ainda 30% que abastecem o mercado interno e sofrem fiscalização do Ministério da Agricultura. O resto é abate clandestino. São frigoríficos menores e desconhecidos, mas que jogam restos como tripa nos rios e põem em risco a saúde de milhões de brasileiros na Amazônia. Curiosamente,não há uma linha nas denúncias sobre isso."
(Por Mariana Barbosa, O Estado de S. Paulo, 01/07/2009)