Os pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Auckland analisaram pares de mamíferos da mesma espécie e descobriram que o DNA dos que vivem em climas quentes muda com mais rapidez. Essas mudanças – em que uma parte do código genético é substituída por outra – são conhecidas como “microevoluções” e representam o primeiro passo em direção à evolução. Segundo os pesquisadores, o estudo ajudaria a explicar a riqueza da biodiversidade dos trópicos, já que a taxa de evolução seria maior nessas regiões mais quentes.
A pesquisa, publicada na revista científica Proceedings of the Royal Academy B, comparou o DNA de 130 pares de mamíferos – um de cada par morava em altitude e latitude diferentes – de “espécies irmãs”, que possuem similaridades genéticas. Os pesquisadores observaram então as mudanças de um gene que codifica uma proteína conhecida como citocromo b, comparando o mesmo gene a um outro de “referência” em um ancestral em comum entre cada par de mamíferos.
Observando mutações desse gene no código de DNA – quando cada ponto de uma tabela do código genético era substituída por outra – os pesquisadores foram capazes de ver qual dos dois mamíferos tinha desenvolvido as “microevoluções” com maior rapidez. Os resultados indicam que animais que habitam locais onde o clima é mais quente faziam uma vez e meia mais essas substituições genéticas do que aqueles que vivem em regiões mais frias.
Len Gillman, que coordenou o estudo, afirma que em latitudes mais altas, onde os ambientes são mais frios e menos produtivos, animais frequentemente conservam suas energias – hibernando ou descansando, para reduzir suas atividades metabólicas. “Em climas mais quentes, a atividade metabólica anual é geralmente maior, o que os condicionará a um total maior de divisão de células por ano na linha germinativa”, disse o pesquisador.
“Inesperado”
A ideia de que microevoluções ocorram com maior rapidez em ambientes mais quentes não é nova. Mas essa é a primeira vez que o efeito dessas mudanças pôde ser mostrado em mamíferos, animais que regulam a temperatura do próprio corpo. “Nós já tínhamos encontrado um resultado parecido em espécies de plantas e, outros pesquisadores, em animais marinhos. Mas já que esses animais são ectotérmicos - ou seja, a temperatura de seus corpos é controlada diretamente pelo ambiente - todos assumiram que o efeito era causado pela condição climática, alterando, assim, a taxa de metabolismo desses animais.”
Cientistas acreditam que essa ligação entre a temperatura e a taxa de metabolismo faz com que, em climas mais quentes, as células germinativas – que eventualmente desenvolvem-se em esperma e óvulos - se dividam com mais frequência. “Ao passar do tempo, o aumento da divisão de células proporciona mais oportunidades para mutações ocorrerem em populações da mesma espécie. Isso aumenta a probabilidade de mutações favoráveis serem selecionadas de dentro de populações da mesma espécie”, afirmou o pesquisador.
“Nós suspeitamos que o mesmo efeito pudesse estar acontecendo em mamíferos, já que mudanças sazonais afetam as atividades dos animais”, disse Gillman à BBC. “O resultado foi inesperado.”
(BBC / ANDA, 30/06/2009)