Depois de muitos atrasos, os estudos etnoambientais das terras indígenas no norte do Estado estão previstos para serem entregues às comunidades Tupinikim e Guarani em dezembro deste ano. O estudo deverá determinar o grau de degradação na região e o melhor uso que os indígenas poderão fazer da terra, de acordo com suas tradições. A informação é que o ritmo nas aldeias é de intenso trabalho participativo. As jornadas de trabalho são divididas em três turnos por dia, por meio de períodos de oficinas, reuniões, coletivas e também a elaboração de relatórios parciais.
Os índios aguardam o início dos trabalhos desde o início de 2008. Sem isso, tem sido cada vez mais insustentável a situação nas aldeias, tanto pela falta de meios que garantam a subsistência das comunidades como pela ansiedade pelo começo dos trabalhos. Para a elaboração do relatório final, além dos índios, também estão sendo consultados documentos com informações sobre as comunidades. Para o estudo, as famílias dos indígenas foram divididas em grupos que serão abordados para que sejam identificados os anseios de todos visando ao aproveitamento da terra reconquistada superadas as dificuldades enfrentadas até o momento pelas famílias.
O estudo é uma exigência do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e custará R$ 380 mil à Aracruz Celulose, responsável pela degradação da terra. O objetivo principal é estabelecer critérios para o reflorestamento da região com espécies nativas e criar projetos para a produção de alimentos e o cultivo de peixes em tanques, na tentativa de amenizar os prejuízos que durante 40 anos essas comunidades amargaram no norte do Estado.
Além de avaliar as condições da terra e elaborar projetos, o estudo avaliará também os prejuízos culturais causados pela exploração na região, as formas de vida no passado, e como isso poderá haver resgate para a realidade atual. Ao todo, participam do trabalho nove técnicos indígenas e nove não-indígenas.
A expectativa é reverter a situação de degradação em que se encontra o território indígena. Com a ocupação da Aracruz Celulose, além da mata atlântica, que foi devastada, sofreram os animais da região, que debandaram, enquanto os rios foram contaminados e, conseqüentemente, a comunidade se viu sem recursos de subsistência. Para reverter este processo, além dos estudos, os índios de Pau Brasil, Irajá e Caieiras Velha já participaram de um treinamento sobre classificação de tilápias para o melhorar o rendimento da produção de peixes em tanques-rede.
O projeto de criação de peixes em tanque-rede nas aldeias indígenas é uma iniciativa da Fundação Nacional do Índio (Funai) e tem apoio do Incaper e da prefeitura. Na região, foram construídas três barragens (uma por aldeia) com capacidade para produção de 1.500 quilos de peixe por mês cada uma.
Ao todo, vivem em Aracruz cerca de 2.500 índios distribuídos em sete aldeias. O projeto do cultivo de peixes em tanques-redes é uma tentativa de contornar a carência de recursos destas comunidades. Além desta atividade, serão proporcionados aos índios durante todo o ano de 2009 cursos de piscicultura, pecuária, fruticultura, processamento de alimentos, cultivo de plantas medicinais, organização social (cooperativismo), entre outros.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 30/06/2009)