Depois de exatos dois anos no cargo, o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, deixa o governo. Ele acertou sua saída no último dia 20, um sábado, em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio da Alvorada. Filiado ao Partido Republicano Brasileiro (PRB), Mangabeira vai se desligar da sigla e ingressar em outra legenda até setembro, quando expira o prazo de filiação para quem vai disputar em 2010.
Oficialmente, Mangabeira está saindo do governo porque não conseguiu convencer a Universidade Harvard, onde dá aulas desde meados dos anos 70, a prorrogar licença obtida, em 2007, para assumir o cargo de ministro. Amanhã, segundo sua assessoria, ele reassumirá suas funções na prestigiosa universidade americana, mas pode ser por pouco tempo.
Nos últimos meses, Mangabeira conversou com vários partidos, "inclusive com o PMDB", diz um amigo do ministro. O objetivo das conversas foi político. Mangabeira vai se filiar a um novo partido com vistas a disputar algum cargo eletivo em 2010 ou a participar da gestão da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, na Presidência, caso ela seja eleita no próximo ano. No governo, diz-se que "certamente Mangabeira é ministeriável" numa gestão Dilma. A ministra, segundo apurou o Valor, gostaria que ele executasse o Projeto Nordeste, proposta de desenvolvimento elaborada pelo ministro para a região mais pobre do país.
Mangabeira nunca teve ligação estreita com o PRB. Filiou-se ao partido, que é controlado por pastores evangélicos, por sugestão do vice-presidente da República, José Alencar, que também é do PRB. Com a filiação, Alencar indicou-o para assumir a Secretaria de Assuntos Estratégicos, à qual o presidente Lula deu status de ministério apenas para abrigar o filósofo - ontem, Lula declarou que vai conversar com Alencar antes de escolher o novo ministro; Daniel Vargas, secretário-executivo, assumirá em caráter interino.
A indicação provocou polêmica em Brasília por causa dos vínculos de Mangabeira com o banqueiro Daniel Dantas e pelo fato de, em 2005, em meio ao escândalo do mensalão, ele ter afirmado num artigo que "o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional". Assessores de Lula e dirigentes de fundos de pensão de empresas estatais tentaram convencer Lula a desfazer o convite a Mangabeira, mas, em respeito a José Alencar, ele manteve a nomeação.
A convivência de Mangabeira com Lula ajudou a aliviar as tensões geradas pela nomeação. No início, o presidente, nas palavras de um assessor, o considerava "um bicho estranho". Aos poucos, no entanto, foi sendo conquistado pelo professor, a ponto de dar a ele a coordenação do Plano Amazônia Sustentável (PAS), decisão que levou Marina Silva a se demitir do comando do Ministério do Meio Ambiente, e da Estratégia Nacional de Defesa.
Em dois anos de governo, Mangabeira e sua equipe elaboraram projetos de reforma do Estado, da legislação trabalhista, do ensino médio, da participação nos lucros e da defesa nacional, além de medidas para a regularização fundiária na Amazônia e o desenvolvimento do Nordeste. Dessas iniciativas, apenas alguns aspectos da regularização fundiária e estratégia de defesa saíram do papel, com a participação de outras pastas.
(Por Cristiano Romero, Valor Econômico, 30/06/2009)