Única na região com o título de Reserva Particular do Patrimônio Natural, a Maragato abriga diversas espécies de animais e é fonte de pesquisa
O município de Passo Fundo, no Norte do Estado, a exemplo de outras cidades de porte médio, não está livre de problemas de degradação do meio ambiente. Em compensação, tem em seu perímetro urbano um patrimônio natural: a Reserva Maragato. É a única área particular na região com o título de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), reconhecida pelo governo federal. A certificação foi obtida em outubro de 2007, após seis anos de intenso trabalho da família proprietária da área para sua preservação. No Rio Grande do Sul, existem outras 24 RPPNs. Essas reservas são áreas destinadas à preservação ambiental em terras privadas, criadas por vontade dos proprietários e reconhecidas oficialmente pelo poder público federal.
A Reserva Maragato, com 41,56 hectares, fica no bairro Valinho, às margens da RS 342 e BR 285. O proprietário, Rogério Benvegnú Guedes, disse que a intenção de preservar a área foi um desejo manifestado por seu falecido avô, Ítalo Américo Benvegnú. O produtor rural contou que tomou conhecimento sobre as RPPNs e fez curso no Paraná sobre o assunto. Depois, encaminhou ao Ibama o pedido de reconhecimento da área como RPPN. A criação ocorreu seis anos após a solicitação, com a publicação de portaria no Diário Oficial da União, em 15 de outubro de 2007.
Atualmente, Rogério Benvegnú luta pela ampliação dessas áreas protegidas, inclusive com a definição de legislação estadual. Fruto dessa batalha, Passo Fundo é o primeiro município no Estado e o sexto no país a ter uma lei aprovada sobre Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Tanto a legislação federal como a municipal propõem a concessão de incentivo fiscal aos proprietários, como contrapartida pela preservação destas áreas, iniciativa que beneficia a sociedade.
A reserva passo-fundense abriga 110 aves diferentes, entre elas o grimpeiro (Leptasthenura setaria), da floresta de araucária, além de cutia, gralha picaça, papagaio charão, entre outras. A diversidade de animais que habitam a área, desde mamíferos até os menores invertebrados, dependem da araucária, espécie chave para a conservação. Na época do pinhão, de abril a julho, a fartura de alimento altera a vida na mata. A Reserva Maragato se caracteriza pela floresta ombrófila mista – com araucária–, além de um ecossistema com córregos, banhados e nascentes.
Com toda essa diversidade, a reserva tem sido fonte de pesquisa científica. Por meio de um convênio com a Universidade de Passo Fundo (UPF), a área é utilizada como sala de aula, principalmente por alunos do curso de Biologia, e também para atividades ambientais voltadas a estudantes dos níveis fundamental e médio e de outras áreas do ensino superior. A Reserva Maragato ainda dispõe de uma estrutura de albergue para 40 pessoas. O espaço está sendo reformado e ampliado, para ser transformado numa pousada. Rogério Benvegnú Guedes afirmou que o estabelecimento deve ser aberto no final deste ano para atividades de ecoturismo e para o público em geral. A Reserva Maragato tem esse nome em homenagem aos federalistas que lutaram nas revoluções de 1893 e 1923. Na área, há o busto do general passo-fundense Prestes Guimarães, comandante dos maragatos (federalistas) na região dos Campos de Cima da Serra, durante a revolução de 1893.
(Por Acácio Silva, Correio do Povo, 29/06/2009)