Com a remoção de lixo do riacho, garças conseguem se alimentar. O Arroio Dilúvio, quem diria, se converteu em um point de pescaria em Porto Alegre.
Embora suas águas ainda sejam um dos principais depositários do esgoto da Capital, a aparição de um crescente número de garças para apanhar peixes no local tem surpreendido moradores e equipes que atuam na remoção do lixo acumulado.
Acostumado a percorrer as margens e só encontrar entulhos, o engenheiro Rogério Gheller Alves, proprietário da empresa responsável pela operação de dragagem do Dilúvio a serviço do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), comemora o retorno de cardumes e aves aos entornos. Segundo ele, quando o serviço de dragagem sistemática teve início, há dois anos e oito meses, o mais comum era esbarrar os equipamentos em ilhas formadas por amontoados de pneus, carcaças de automóveis, sofás e garrafas plásticas, cobertas por terra e vegetação. A partir da retirada diária de quatro a cinco caminhões de lixo, o cenário começou a se transformar. Em 32 meses de trabalho, a quantidade de entulhos removida chegou a 120 mil toneladas – superior ao peso dos maiores porta-aviões do mundo. Com o caminho livre, peixes como jundiás, carpas e traíras do Guaíba voltaram a nadar pelo Dilúvio. E as garças vieram atrás.
Despejo de esgoto caiu desde 2007
Em apenas uma tarde, o diretor-geral do DEP, Ernesto da Cruz Teixeira, contou 62 aves enfileiradas entre a esquina da Silva Só e a foz do Dilúvio. "Acreditamos que a oxigenação da água aumentou com a retirada de lixo", avalia Teixeira.
Apesar do entusiasmo de quem assiste à pescaria, especialistas advertem que a presença de garças está longe de ser um indicativo de qualidade da água. "Pode ser que a água tenha ficado mais profunda, e que os peixes tenham ganhado mais espaço para natação, mas isso não muda nada na composição química da água, a poluição continua dissolvida ali", analisa o biólogo Albano Schwarzbold, professor de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Dmae informa que não faz monitoramento regular da qualidade da água do Dilúvio. Com uma média de ligação de 300 residências por ano à sua rede, o despejo de esgotos no Dilúvio caiu de 144 litros por segundo, em 2007, para cem litros por segundo, neste ano.
(Por Letícia Duarte, Zero Hora, 27/06/2009)