Não tem precedente no Brasil o “Pacto pela Sustentabilidade” que o Wal-Mart firmou na semana passada com Unilever, Colgate/Palmolive, Coca-Cola, Nestlé, que no conjunto representam quase 15% do PIB brasileiro. Pela primeira vez no país, os maiores grupos industriais, sob a liderança de uma cadeia de varejo, uma das três maiores, se comprometem com metas de longo prazo para redução dos impactos ambientais ao longo da cadeia de seus produtos. O compromisso implica também não adquirir produtos de áreas de desmatamento ilegal ou que envolvam trabalho escravo. “Isso é o que todas as empresas deviam fazer”, disse o ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, no evento que lançou o pacto, terça, 23, em São Paulo.
O diretor-geral do Greenpeace no Brasil, Marcelo Furtado, lembrou a atitude das três maiores redes do varejo – Wal-Mart, Pão de Açúcar e Carrefour – que suspenderam as compras de carne de fazendas em áreas de desmatamento ilegal, medidas também sem precedentes. “Estamos diante de uma mudança de padrão”, disse. Era a primeira vez também que um representante do Greenpeace falava numa reunião de grandes empresários.
Hector Nunez, presidente do Walt-Mart Brasil, disse que “estamos diante de uma nova economia, precisamos reinventar a maneira de fazer negócios. Os impactos ambientais não podem mais ser ignorados”.
"Onda Verde veio para ficar"
Andrew Winston, professor de Yale e consultor de empresas, é co-autor de “Green to Gold”, traduzido no Brasil por “O Verde que Vale Ouro”, livro que anuncia uma “nova era” na maneira como as grandes empresas estão encarando as questões ambientais. Junto com Daniel Esty, também de Yale, Winston pesquisou e entrevistou centenas de grandes executivos e diz ter percebido uma “onda verde” se expandindo no ambiente das grandes corporações.
O Walt-Mart é uma das primeiras e está na vanguarda, segundo Winston. Mas não está sozinho. “Incorporar a sustentabilidade é estratégia dos negócios e é uma necessidade que todos estão percebendo”, diz ele. A ideia convencional de que preservação significa custo, segundo Winston, foi superada pela emergência dos desafios ambientais. Um marco nesse processo foi o furacão Katrina que arrasou arrasou New Orleans, em 2004. Naquele momento se aguçou a percepçao sobre as mudancas climáticas e as consequências da devastação ambiental. Confrontadas com a gravidade da situação, as empresas estão agindo e descobrindo que “o verde não é incompatível com o lucro”.
Ao contrário, a busca da sustentabilidade, via inovação e criatividade, pode representar uma “ecovantagem” para as empresas que saírem na frente. A Wal Mart foi uma das primeiras. Desde 2005 passou a incluir a sustentabilidade na sua estratégia de negócios nos Estados Unidos. Agora está expandindo essas práticas para os outros países onde atua. Na China, já reuniu mil fornecedores em outubro do ano passado, em Beijin, para dar início a um programa de sustentabilidade. No Brasil, construiu em outubro também o seu primeiro supermercado ecoeficiente, no Rio De Janeiro.
A possibilidade de que a adesão ao verde seja apenas uma fachada, um lance de marketing, esbarra, segundo Winston, no comportamento dos consumidores que estão cada vez mais conscientes e mais atentos. Fazer um discurso verde e continuar com as práticas antigas seria um risco muito grande para uma empresa e Winston cita, em seu livro, vários casos de grandes prejuízos sofridos por companhias que descuidaram das boas práticas ambientais e sociais.
Não só os consumidores, os próprios funcionários das empresas estão a exigir e fiscalizar, mas também os acionistas, as ongs e as organizações comunitárias. “Isso é o que está mudando as empresas.” O livro foi lançado em 2006 nos Estados Unidos e chegou ao Brasil no ano passado.
Principais metas definidas no pacto
Os signatários do Pacto pela Sustentabilidade se comprometem em reduzir os impactos em todas as etapas da produção – fontes de matéria-prima, embalagens, emissões de gases no transporte – para formar uma cadeia de suprimentos sustentável. O compromisso inclui também não comprar produtos com vícios de origem, vindos de áreas de desmatamento, envolvendo trabalho escravo, ou empresas irregulares.
Metas definidas:
– Reduzir em 70% o fosfato nos detergentes para lavanderia e cozinha até 2013;
– Oferecer produtos de lavanderia no mínimo duas vezes mais concentrados até 2012;
– Oferecer pelo menos um produto orgânico por categoria de alimentos ate 2012;
– Estimular as vendas de produtos com diferencial em sustentabilidade;
– Apoiar e estimular o desenvolvimento de produtos de ciclo fechado.
Redução de Resíduos (lixo zero)
– Reduzir embalagens em ate 5% ate 2013;
– Implantar o Packaging Scorecard ate 2009;
– Reduzir o consumo de sacolas plásticas em 50% ate 2013.
Campanha para reduzir sacolas plásticas
No final do ano passado, o Wal-Mart lancou um programa inédito no varejo brasileiro, dando ao cliente o credito de R$ 0,03 por sacola plástica não utilizada. A meta da companhia é reduzir em 50% o uso de sacolas plásticas até 2013. Em vigor em todas as lojas do Nordeste e do Sul (mais de 260 unidades), o programa já recolheu mais de 3 milhões de sacolas e concedeu mais de R$ 100 mil em descontos para os clientes. Por outro lado, a rede estimula o uso de sacola retornável, oferecendo um modelo a R$ 2,50, feita em algodão cru com capacidade para até 35 quilos. Desde o lançamento, hÁ um ano, já foram vendidas mais de 2 milhões de sacolas.
Wal-Mart no Brasil
A WM está há 14 anos no Brasil. Tem 348 unidades em 18 Estados, sendo 95 no Rio Grande do Sul, o que tem maior número de lojas. No ano passado faturou R$ 17 bilhões, crescendo 13% em relação ao ano anterior. Investiu R$ 1,2 bilhão, quantia que este ano vai se elevar para 1,6 bilhão, o maior investimento da empresa desde que chegou ao país, que vai resultar em dez mil novos empregos.
No mundo, a rede tem 7.900 unidades, sendo 4.258 nos Estados Unidos, 1.197 no México e 243 na China. Está em 15 países. Tem 2 milhões de funcionários, 100 mil fornecedores e 200 milhões de clientes.
(Por Elmar Bones, de São Paulo, Jornal JÁ, 29/06/2009)