É uma questão de tempo até que a nova variante do vírus da influenza A (H1N1) comece a se disseminar de forma sustentada no Brasil. Essa situação estará caracterizada quando a propagação da doença não estiver mais limitada a pessoas que viajaram há pouco ao exterior e seus contatos mais próximos. Nesse caso, a estratégia do Ministério da Saúde de utilizar vigilância cerrada para identificar e bloquear as cadeias de transmissão terá de ser revista. Essa conduta só funciona nos estágios iniciais de um surto.
Quando as autoridades sanitárias concluírem que estão enxugando gelo, deverão passar ao modo simplificado de vigilância e centrar esforços na redução de danos. Tal mudança de estratégia já foi adotada em países como os EUA e está prevista no "Plano de Preparação Brasileiro para o Enfrentamento de uma Pandemia de Influenza", texto de 223 páginas elaborado pelo ministério em 2005.
Pelo documento, estaríamos na transição da fase 6 (última do período de alerta) para a 7 (pandemia). A prioridade deixaria de recair sobre a detecção de casos e passaria a ser a redução da morbimortalidade. A vigilância, é claro, continuaria, só que com outros objetivos. Já não se coletariam amostras virais de todos os pacientes, mas de parte deles, com a finalidade de monitorar o comportamento do vírus.
A ideia principal passa a ser preparar médicos e hospitais para lidar com a doença: divulgar os protocolos específicos e garantir que não faltem equipamentos e drogas. A provável mudança para a fase 7 não significa que o H1N1 ficou mais letal, apenas que haverá maior exposição a ele. Como mais pessoas contrairão a doença, haverá mais complicações e quase certamente mortes. Pelo que se sabe até aqui, estamos diante de um vírus mais perigoso que o da influenza sazonal (letalidade perto de 0,5% contra menos de 0,1%), mas não tão ameaçador quanto o da gripe espanhola, que matou mais de 50 milhões em 1918-19.
Fala-se muito que o novo H1N1 poderia sofrer uma mutação e, num segundo momento, voltar de forma mais mortífera. É o que teria ocorrido com a gripe espanhola, que também era uma variante do H1N1. É possível. Mutações são acima de tudo imprevisíveis. A boa notícia é que o vírus agora em circulação não tem a proteína PB1-F2, presente no patógeno de 1918 e na também perigosa gripe aviária (H5N1). Alguns cientistas acreditam que essa proteína seja necessária para tornar o vírus da influenza um mega-assassino.
(Por Hélio Schwartsman, Folha de S. Paulo, 26/06/2009)