O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na quinta-feira (25/06), durante assinatura do termo de compromisso para melhorar as condições de trabalho no setor canavieiro, que as críticas feitas sobre o assunto no exterior estão mais ligadas à disputa por espaços comerciais em áreas nas quais o Brasil não participava anteriormente. Segundo o presidente, muita gente "não suporta ver que o Brasil é o maior exportador de carne, de minério de ferro, um dos maiores de soja". Lembrou, ainda, que no passado muitos governantes e organizações não-governamentais internacionais chamavam os trabalhadores rurais para denunciar maus tratos. "Eles iam porque achavam que, com isso, ajudariam o Brasil".
Lula lembrou que o país não quer mais ser tratado como uma nação de segunda categoria. "Certa vez, veio um dirigente estrangeiro me dizer que não poderia comprar o etanol brasileiro porque as condições de trabalho dos cortadores de cana brasileiro eram degradantes. Eu respondi que elas não eram piores do que as condições dos trabalhadores das minas de carvão que fizeram a riqueza do país dele", disse o presidente, bastante aplaudido pelos presentes.
O termo de compromisso assinado ontem prevê, dentre outras coisas, a contratação direta dos trabalhadores por meio de registro em carteira de trabalho, eliminando os "gatos" (intermediários), o fornecimento por parte dos usineiros, de forma gratuita, de transporte seguro e equipamento individuais de segurança de boa qualidade para os trabalhadores, além de marmitas térmicas e duas pausas coletivas diárias durante o expediente. Para Lula, é um grande avanço. "Há quarenta anos, isso seria impensável, pois os trabalhadores e empresários não se viam como atores da relação capital e trabalho, mas como inimigos".
Lula disse que também tinha esta mentalidade quando era sindicalista e que nunca imaginou tornar-se, um dia, o maior garoto-propaganda do etanol brasileiro. Por isso, afirmou não teme entrar no debate com as nações mais desenvolvidas. "Quando o debate é sobre o produto deles, eles não querem imposto. Quando é o nosso etanol, eles querem taxa sobre taxa, para que a gente possa provar que o nosso produto é melhor que o deles", declarou Lula.
O presidente recebeu dois presentes durante o evento. O primeiro foi uma cesta com produtos feitos à base de cana, como açúcar, rapadura e moça-branca (doce típico do interior de Goiás). Também recebeu das mãos de alguns trabalhadores rurais um facão utilizado nos canaviais. "Quando esse facão está na mão de um trabalhador ou de uma trabalhadora, ele não pode ser considerado uma arma, mas um instrumento de paz e trabalho", afirmou. Lula também enalteceu os empresários do setor, lembrando que eles muitas vezes são vistos, pelos políticos, como alguns setores evangélicos. "Todo mundo quer o voto dos evangélicos, mas depois têm vergonha de admitir esse apoio".
O presidente da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (Única), Marcos Junk, lembrou que o setor sucroalcoleiro representa a segunda principal matriz energética brasileira, ficando atrás do petróleo e à frente da hidroeletricidade. Junk destacou, ainda, que 303 usinas, das 413 em funcionamento no país, aderiram ao termo de compromisso. "É uma prova que as relações entre o capital e o trabalho estão avançando", ressaltou o empresário.
(Por Paulo de Tarso Lyra, Valor Econômico, 26/06/2009)