A Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (AIDESEP) afirmou quarta (24/06) que vai se retirar do Grupo de Coordenação para os Povos Amazônicos caso o executivo e o legislativo peruanos continuem perseguindo e prendendo líderes indígenas no país. Na noite da última terça (23), a polícia peruana invadiu a sede da Organização Regional dos Povos Indígenas da Amazônia Norte (ORPIAN) e prendeu um estudante awajún.
Segundo advogados do grupo indígena, a ação da promotoria de Utcubamba e de quatro efetivos policiais que invadiram a sede da ORPIAN e detiveram o estudante Juanito Kunchikui pretendia, na verdade, prender o vice-presidente da entidade,
Leandro Calvo. Segundo a OPRIAN, Calvo e outros líderes indígenas deixaram o local minutos antes da chegada da polícia.
Em nota, a presidente da AIDESEP, Daysi Zapata Fasabi, considerou "estranhíssimo" o fato de o governo e a justiça peruana tentarem prender líderes indígenas após uma reunião "cordial" entre o presidente regional da Amazônia e os Apus. Para Daysi, o fato deixa em "alerta os povos indígenas, lhes faz duvidar e desconfiar das intenções do governo".
A AIDESEP divulgou quarta (24) um documento em que estabelece sete condições para não abandonar o Grupo de Coordenação para os Povos Amazônicos, onde discute questões ligadas à região com o Governo. O texto ainda ratifica a unidade do Movimento Indígena Amazônico, a resistência pela defesa dos territórios ancestrais e a exigência de que o pacote de Decretos Legislativos seja derrogado. A entidade pede a declaração de Estado de Emergência, a retirada das tropas das Forças Armadas das manifestações populares e que o governo não mais persiga e prenda líderes indígenas. A Associação exige que o governo retire as denúncias contra lideranças do movimento, realizadas por procuradores públicos do Estado.
A organização indígena ainda exige que o governo cesse a perseguição ao líder indígena Alberto Pizango, que se encontra exilado. A entidade também repudiou a perseguição e ameaças contra o padre Mario Bartolini, que tem se demonstrado identificado e solidário com os povos indígenas amazônicos. A associação ainda pediu que os governantes criem uma comissão para investigar as 34 mortes e os mais de 60 desaparecimentos de manifestantes em Bagua. Os crimes ocorreram no dia 5, durante um protesto indígena contra os Tratados de Livre Comércio (TLC) entre Peru e Estados Unidos. Na semana passada, o governo peruano derrocou dois TLC com os Estados Unidos, após forte pressão dos indígenas.
A mesa de diálogo foi iniciada na última terça (23) com a presença de representantes dos governos nacional, regional e local, da sociedade civil, das comunidades campesinas de Apurímac e profissionais com perfil técnico para julgar os decretos legislativos. O grupo discutiu a derrogatória desses decretos, a lei de recursos hídricos e os Projetos de Irrigação Apurimac II.
(Adital, 25/06/2009)