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potencial eólico brasileiro passivos da energia eólica política energética
2009-06-26

Quem sobrevoa a Holanda em dias de céu claro e espia lá embaixo tem a sensação que alguém espalhou queijo ralado por cima dos campos agrícolas. Há uma sujeirinha branca recorrente nas lavouras. Conforme o avião se aproxima do pouso, a mancha toma forma de catavento. O país dos moinhos românticos do século XVIII ganhou versão high-tech: a Holanda está salpicada de torres de energia eólica.

A tendência holandesa de colocar um moinho de vento no quintal é tão forte que o debate atual é se o país está virando um imenso paliteiro. O problema deles é com a paisagem. Os críticos alegam que as torres eólicas são feias e barulhentas. As primeiras que surgiram, há 15 anos, tinham 80 metros de altura e hoje estão sendo projetados monumentos de 180 metros. A torre de Roterdã, uma referência na segunda cidade do país, tem 185 metros de altura. É fácil entender a má vontade holandesa com os monótonos e imensos moinhos de vento, se se pensar que se trata de um povo inovador, que aprecia design e arquitetura.

Em termos estéticos, o sistema descentralizado de geração de energia eólica adotado no país, onde 85% dos moinhos de vento estão em fazendas, é um pesadelo. "Para os planejadores urbanos, a instalação caótica das torres é a visão do inferno", diz o arquiteto e professor Dirk Sijmons. Há poucos dias ele deu uma palestra na universidade de Delft, onde leciona design ambiental, sobre a influência das torres de energia eólica no cenário holandês. "Esta é uma polêmica muito emocional", dizia, e começava a mostrar ideias: torres pintadas de verde na base para se integrarem aos pastos, ou negras, combinando com o clima que se espera de um cemitério. Arrancava gargalhadas da plateia. Pontuou que o projeto do governo de colocar centenas de torres altas como arranha-céus no Mar do Norte pode criar a visão de um "tsunami branco".

Mas foi aí que comparou o que aconteceria com o país se precisasse produzir os mesmos 3.387 MW de energia que obtém com os ventos a partir de outras fontes, do carvão ao nuclear. A plateia parou de rir. Toda solução tem uma consequência ambiental e é preciso escolher a melhor. Para o arquiteto, o barulho das pás e a visão dos cata-ventos gigantescos é o menor dos problemas.

Na perspectiva brasileira este debate todo parece estar acontecendo em Alfa Centauro. Tudo bem que aqui a fonte de energia hídrica garante o eterno discurso da matriz limpa - até agora - e a Holanda é um país plano, que abriga ciclistas e não hidrelétricas. Mas será que é preciso barrar todo rio amazônico e remexer na vida das comunidades tradicionais e dos povos indígenas? Não vale a pena considerar outras fórmulas à receita rotineira de construir grandes e bilionárias obras com impactos socioambientais cada vez maiores e mais caros? A energia eólica, nos planos do governo, vem sempre carimbada como cara - um selo que a nuclear também carrega (mas que o governo parece não levar em conta), com o agravante que torna o mundo um lugar mais perigoso para se viver.

O potencial eólico brasileiro, para quem faz o lobby desta energia, é espetacular. O Brasil, na visão de especialistas, é o lugar de ventos elegantes e comportados - sopram constantemente e com a mesma intensidade, que não é forte demais. "Temos as melhores jazidas de vento do mundo", disse esta semana em entrevista à rádio CBN, Everaldo Feitosa, vice-presidente da Associação Mundial de Energia Eólica. O tanto que sopra no Nordeste poderia produzir energia suficiente para suprir todo o Brasil, dizem. O potencial de geração eólica no Brasil pode chegar a 143 mil MW. Além disso, o setor tem perfil similar ao das montadoras de automóveis, hoje em declínio. Mas este segmento, apostam, tem um pé no futuro e significaria também geração de emprego e desenvolvimento de tecnologia.

O Proinfa, o programa que o governo lançou em 2002 para estimular energias alternativas, nunca andou para frente. "Não há sinalizações oficiais que deixem atrativa esta opção de energia", diz Celio Bermann, professor livre-docente do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo. Mas ele também aponta que o leilão específico para eólica, previsto para novembro, pode ser um marco para o setor finalmente decolar.

Na Holanda, a busca por produzir e conservar energia parece uma obsessão. Em 2007, 2,7% do fornecimento vinha de fontes limpas - solares, do vento ou da biomassa. Este ano, a fatia saltou para 3,5%. Em 2020, a meta dos holandeses é ter 30% de sua matriz calcada em energias limpas e renováveis. Eles parecem estar encarando o desafio. O governo criou, em 2008, um esquema de subsídios para projetos eólicos com validade por 15 anos. Funciona assim: durante este prazo o investidor recebe a diferença entre o custo de produzir eletricidade a partir de combustíveis fósseis e o custo de produzir através dos ventos. A conta é calibrada todos os anos. Projetos individuais não são mais subsidiados, mas o fazendeiro pode sempre pedir um empréstimo no banco. Os consumidores que produzem eletricidade e alimentam a rede tem preço garantido.

Isto sem mencionar projetos como os de Zeewolde, um pequeno município de 20 mil habitantes no norte do país, onde um fazendeiro recolhe os dejetos de 140 vacas e com esta biomassa, digamos, bizarra, consegue energia suficiente para aquecer e iluminar 500 casas próximas. Ali perto, na pequena Apeldoorn, o biogás vem dos resíduos do saneamento básico da região. Algumas experiências parecem saltar dos livros de Julio Verne: edifícios aproveitam o calor do verão nos vidros das janelas e lançam o ar quente para aquecer o lençol freático que passa por baixo; no inverno, a água quente é bombeada para cima num jogo onde se aproveita a energia do Sol e da Terra.

Em Amsterdã, 99% do lixo doméstico é convertido em energia verde e produz o suficiente para fazer o metrô da cidade andar. Os holandeses sempre foram conhecidos pela intimidade que têm com a água e costumam dizer que batalharam por séculos para conseguir manter seus pés secos. Ali, agora, até o calor virou commodity. Para os holandeses do século XXI, qualquer maneira de produzir energia parece valer a pena.

(Por Daniela Chiaretti*, Valor Econômico, 25/06/2009)

* Daniela Chiaretti é repórter especial do jornal


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