Águas chegaram a 29 m, quando nível normal nesta época do ano seria de 27 m. Alerta sobre enchente inédita foi feito por órgão do governo em março; 18 mil sofreram danos e há 29 famílias desabrigadas
O rio Negro atingiu nesta quarta (24/06) a marca de 29,69 metros, que se iguala ao nível mais alto da história de cheias em Manaus, de 1953. As águas, porém, continuam subindo, segundo o Serviço Geológico do Brasil, órgão federal que acompanha a hidrologia da bacia amazônica. Desde março, o órgão vem fazendo alertas sobre a possibilidade de uma enchente inédita. O nível das águas não deve baixar rapidamente e a população de Manaus deve sofrer com inundações até agosto, de acordo com Marco Antônio Oliveira, superintendente regional do Serviço Geológico do Brasil.
As águas paradas estão poluídas e favorecem a disseminação de doenças como leptospirose e hepatite. Dezoito mil pessoas sofreram danos pelas cheias na cidade. No momento, há 29 famílias desabrigadas. Os igarapés (braços) do rio Negro que cortam a cidade inundaram mais de 4.000 casas de 18 bairros. Dos 62 municípios do Amazonas, 58 já decretaram situação de emergência devido às cheias.
"É uma cheia excepcional, diferente de todas, porque, no final de junho, o rio Negro tinha tendência de parar e sofreu um repique [subida elevada] de 4 cm, que nunca aconteceu antes", disse Oliveira. São as chuvas que determinam o regime da cheia e vazante nos rios da Amazônia. Fortes chuvas na nascente do rio Solimões, no Peru, e precipitações atípicas neste mês em Manaus resultaram nesta cheia anormal, segundo especialistas. O nível considerado normal para o rio nesta época do ano seria de 27,76 metros. O nível do rio Solimões, que "represa" as águas do rio Negro na região de Manaus, também bateu recorde na estação da cidade de Manacaparu.
O índice histórico alcançado pelo rio Negro atraiu turistas e moradores ontem à estação hidroviária do Porto de Manaus, no centro da cidade, para tirar fotografias do painel demonstrativo onde consta o número 1953, ano da maior cheia. A turista gaúcha Eliane Schönhofen, 56, disse que estava assustada com o volume da água. "Para quem não conhece a Amazônia, é impressionante."
(Por Kátia Brasil, Folha de S. Paulo, 25/06/2009)