O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) alerta que o setor construtivo responde hoje por cerca de 40% das emissões dos gases de Efeito Estufa do mundo, o que exige mudança de padrões
Um dos temas que deverá integrar a pauta da Cop-15 - Conferência das Partes das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, que será realizada em dezembro deste ano, em Copenhague, na Dinamarca, será o papel do setor construtivo na produção dos gases de Efeito Estufa. Segundo o diretor do Núcleo de Produtos Sustentáveis do Pnuma - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Arab Hoballah, o segmento é responsável por 40% das emissões no planeta. Um percentual que não pode ser menosprezado e que levou o órgão a promover estudos sobre construções sustentáveis.
De acordo com Hoballah, muitos países já dispõem de tecnologia de produtos mais eficientes. “Mas precisamos descobrir onde estão, isso é um desafio, como também readaptar os edifícios antigos. Outro aspecto importante é incentivar a abertura de financiamentos de linhas verdes para essas intervenções”. Em sua opinião, opções simples, como janelas mais arejadas com utilização de madeira, que são seculares, são muito mais eficientes que as edificações modernas, espelhadas, que exigem mais ar-condicionado.
“Precisamos pensar na nova ecologia urbana. Ao melhorar a qualidade dos edifícios, melhoramos a saúde. Há muitos impactos diretos e indiretos a se avaliar”, disse durante o encontro “Reflexões sobre Construções Sustentáveis e Mudanças Climáticas”, realizado na sede da Prefeitura de São Paulo. O evento foi promovido pela Prefeitura em parceria com o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável e o Pnuma. O diretor destacou que as ações devem começar pelos municípios, ao fazer o mapeamento das construções de seus bairros
Hoballah disse que há três anos o sistema da ONU - Organização das Nações Unidas aplica medidas sustentáveis em suas edificações. “A ONU ficou com a fama de falar muito, mas não ter responsabilidade para realizar certas coisas. Essa é uma das experiências que mantemos, que reverte essa situação. Nossas sedes em Nova York, Viena e Hanói já seguem o guia de compras verdes, desde a aquisição do papel”, afirmou.
Hélio Neves, secretário municipal em exercício do Verde e Meio Ambiente de São Paulo, também citou que a pasta irá mudar para o centro da cidade e ocupará uma construção ‘green building”. Segundo ele, a recém-aprovada lei nº 14.933, de 05/06/2009, que institui a Política de Mudança do Clima do Município de São Paulo, já determina que as construções novas obedeçam critérios de eficiência energética e de materiais, como as que forem submetidas a reformas e ampliações. Os empreendimentos de habitação popular deverão seguir o mesmo padrão.
Nos editais de licitação de obras e serviços de engenharia que utilizarem produtos e subprodutos de madeira em obras do município, será exigida a especificação do objeto e do emprego de madeira exótica ou de origem nativa, com procedência legal. Até o ano que vem, de acordo com Neves, a Secretaria deverá inaugurar a “Escola da Madeira”, no Parque Anhanguera. “Vai ser um prédio de madeira, em que serão promovidas capacitações para o uso sustentável”, informou.
Rachel Biderman, coordenadora-adjunta do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas – CES-FGV explica que ainda é necessário estabelecer o marco regulatório da legislação da Política de Mudança do Clima. “A ampliação de áreas verdes em construções da iniciativa privada é uma das propostas que deverá melhorar o microclima da cidade”, disse. Até o próximo semestre, a Política Estadual de Mudança Climática de São Paulo também deverá ser aprovada, segundo Casemiro Tércio Carvalho, coordenador de Planejamento Ambiental da Secretaria de Estado do Meio Ambiente.
Antes disso, já entrou em vigor o Programa Estadual de Contratações Públicas (Sustentáveis). E, em março deste ano, foi assinado o acordo de cooperação técnica, entre as secretarias municipal do Verde e Meio Ambiente e estadual do Meio Ambiente de São Paulo, a Prefeitura Municipal, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) e a Associação dos Produtores Florestais Certificados na Amazônia (PFCA) para o consumo de madeira ‘legal’ regularizada. O protocolo também é resultado da parceria com o WWF-Brasil e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Segundo o diretor do Pnuma, entretanto, o maior desafio é promover a mudança de hábitos. “Se o próprio governo não mudar, como poderá dizer às pessoas mais pobres, que não têm meios básicos para sobreviver, que devem mudar? A cada segmento da população há uma resposta”, disse.
(Por Sucena Shkrada Resk, Planeta Sustentável, 23/06/2009)