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conservação dos cetáceos caça de baleias
2009-06-25

Organizações de conservacionistas têm poucas esperanças sobre um acordo para redução da caça na 61ª reunião anual da Comissão Baleeira Internacional (CBI), iniciada segunda-feira (22/06) na portuguesa ilha da Madeira. Delegados de mais de 80 países continuarão até sexta-feira (26) próxima a disputa de duas décadas entre nações favoráveis à captura de baleias, como Japão, Islândia Noruega, e os que são contra essa prática, entre eles Austrália, Estados Unidos e os membros da União Européia. Uma proposta de acordo em estudo na CBI mudaria parte da cota de captura “para pesquisa” em mãos do Japão no oceano Antártico por uma autorização para caçar em suas águas territoriais.

“Não creio que esta será a reunião dos grandes êxitos”, disse à agência de noticias Associated Pres (AP) Remi Parmentier, do norte-americano Projeto Pew de Conservação de Baleias, desde a ilha da Madeira. A ativista do Greenpeace Sara Holden teme que as conversações não consigam acabar à prolongada paralisação. “Minha preocupação principal é que os delegados se limitem a cruzar os braços, satisfeitos de falar outro ano, enquanto as baleias continuam morrendo”, disse Holden à AP Television News. Japão, Islândia e Noruega capturam comercialmente cerca de duas mil baleias ao ano, e resistem em abandonar essa prática.

Esses países querem levantar a proibição ao comércio de suas partes, ilegal sob a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (Cites). As nações baleeiras alegam que a população de muitas espécies desse animal é tão abundante que nada deveria impedir sua caça. Uma moratória da CBI à caça comercial da baleia entrou em vigor em 1986. Desde então, a frota japonesa capturou cerca de 12 mil exemplares no oceano Antártico e no Pacífico noroeste, ao amparo de uma isenção da CBI para pesquisas científicas. Os críticos afirmam que o programa de pesquisa é uma simples fachada para a caça comercial de baleias, e que os avanços tecnológicos tornam desnecessário arpoar esses animais.

Islândia e Noruega objetaram formalmente a moratória e ficaram à margem da proibição, de acordo com as normas da CBI. O Japão começou a importar carne de baleia em 2008: umas poucas dezenas de toneladas da Islândia e menos de 10 toneladas da Noruega. As nações nórdicas esperam aumentar essa exportação este ano. “Isso mostra o desespero da indústria baleeira, que não pode vender seus produtos na Noruega e tenta colocá-los no exterior a qualquer preço”, disse Truls Gulowsen, diretor do Greenpeace-Escandinávia.

Segundo Reece Turner, dessa mesma organização, este a Dinamarca tentará obter uma autorização para caçar mais baleias com fins de subsistência. A Groenlândia deseja para o próximo ano uma cota de 10 baleias jorobadas, acrescentou. Se estas costas prosperarem, somando-se às capturas anuais da Noruega, “essas nações européias poderão, pela primeira vez, estar caçando mais baleias do que o Japão atualmente”, acrescentou. O governo islandês, afetado por uma grave crise econômica, aumentou em janeiro sua cota baleeira anual de 49 para 300. Os ambientalistas dizem o novo governo não faz nada para impedir a caça.

Na semana passada, quatro baleias de nadadeira, listadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) como espécie ameaçada foram capturadas e processadas em Hvalfjördur, no ocidente da Islândia. São as primeiras de uma cota prevista de 150 baleias de nadadeira. “O governo não conseguiu mostrar liderança, apesar de sua própria e manifestada oposição à caça”, disse Holden. “Hoje está claro que a política baleeira da Islândia realmente é administrada pelo baleeiro Kristjan Loftsson e sua empresa Hvalur ehf. Mas, por menor que seja, o ganho que obtém com esta caça de baleias de nadadeira fará com que seja um grande custo para a Islândia, tanto econômico quanto político”, acrescentou.

O Greenpeace afirma que já não existe um mercado para a carne de baleia no Japão. O diretor da Ásia trading Co. Ltda. Com sedem e Tóquio, disse este mês a um investigador do Greenpeace que no ano passado aceitou por amizade uma importação de carne de baleia de nadadeira e minke da Islândia e da Noruega, como um favor ao baleeiro islandês Loftsson, mas não tinha planos de repetir o trato. “Se alguém não pode vendê-las aos seus amigos, e às três maiores empresas pesqueiras do Japão já disseram que não querem carne de baleias japonesas, então não há possibilidade de haver um mercado exportador viável da Islândia para o Japão”, disse Wakao Hanaoka, ativista do capitulo japonês do Greenpeace, falando na Islândia.

Os países contrários à caça de baleias, com apoio de organizações conservacionistas, querem intensificar as restrições introduzidas por uma moratória de 1986. “As grandes baleias de nosso planeta enfrentam mais ameaças hoje do que em qualquer outro momento da historia. É hora de se acabar com a caça comercial da baleia, não com sua proibição”, disse Patrick Ramage, diretor do programa baleeiro no Fundo Internacional para a Proteção dos Animais e seu Habitat (Ifaw). Em sua declaração inaugural na CBI, o Greenpeace alertou que, se não for mantida a proibição da caça comercial de baleias, a população desses animais estará em risco de extinção.

“Se não se reduzir drasticamente o interromper as capturas incidentais nas redes, a atual captura de baleias cinzas ocidentais levará sua população à extinção neste século”, acrescentou Ramage. A sobrevivência da baleia franca glacial está em xeque, já que o impacto dos barcos e as capturas acidentais nas redes impedem que sua população se recupere, prosseguiu. Segundo o Ifaw, o acordo violará a moratória e os procedimentos científicos estabelecidos, legitimará a atual captura baleeira para fins de pesquisa e ignorará décadas de trabalho por parte do Comitê Científico da CBI. “Os países que apóiam a ciência e a conservação baleeira deveriam rechaçar esse acordo e, em troca, atuar dentro e fora da CBI para tornar efetiva a moratória para a caça comercial da baleia”, disse Ramage. “O futuro da CBI é a conservação baseada na ciência, não a matança comercial aprovada”, afirmou.

É necessária maioria de três quartos dos votos para ocorrerem mudanças substanciais na convenção da CBI que regula a captura de baleias. O Greenpeace pediu urgência à Comissão para se transformar, passando de “um organismo que tenta manejar as baleias para beneficio da indústria baleeira para uma organização que busca conservar e proteger os cetáceos em todo o mundo”.

(Por Marina Litvinsky, IPS / Envolverde, 24/06/2009)


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