Cada vez mais pessoas usam o transporte aéreo no mundo e, hoje, grandes distâncias podem ser vencidas mais facilmente. A popularização dos aviões, porém, tem um efeito colateral para o clima: as emissões de gás carbônico - principal gás de efeito estufa - da aviação cresceram 42% entre 1990 e 2005.
De acordo com pesquisadores europeus, a contribuição atual da aviação para a mudança climática é comparável à de uma grande economia, como o Reino Unido. Porém, ao contrário daquele país, o setor aeronáutico está aumentando sua participação no problema em vez de reduzi-la. As informações são de cientistas do Instituto de Pesquisa em Mudança Climática de Potsdam, na Alemanha, e do Centro para Transporte Aéreo e Ambiente, no Reino Unido. Segundo os pesquisadores Malte Meinshausen e Sarah Raper, em 2005 a aviação foi responsável por 2,8% das emissões de CO2. E, levando em conta o efeito da fuligem, de outros gases e das nuvens produzidas pelos aviões, os cientistas concluíram que o setor foi responsável por 4,7% da mudança climática provocada pelo homem entre 1940 e 2005. Isso representou um aumento na temperatura global de 0,028ºC.
Para o IPCC (painel do clima da ONU), uma elevação de mais do que 2ºC na temperatura é perigosa - serão mais frequentes as secas graves, tormentas e inundações. Em vista dos dados alarmantes, a aviação não deverá escapar de obrigações no próximo acordo climático, que deve ser fechado em dezembro em Copenhague. O pacto definirá as metas de redução de emissão dos gases de efeito estufa.
Para não serem apanhadas de calças na mão, ainda mais em meio à crise econômica que afeta gravemente o setor, algumas empresas aéreas decidiram criar um grupo para pôr na mesa as propostas de redução de emissões do setor. O AGD (Acordo Global da Aviação, na sigla em inglês) inclui Air France/KLM e British Airways. Elas apresentaram suas propostas em Bonn, na Alemanha, durante negociações prévias para a conferência de Copenhague. E deram sugestões de metas até 2020 e 2050.
Perto do que os cientistas consideram necessário, as metas são fracas. Além disso, eles colocam como condição para o corte a existência de um comércio de emissões - ou seja, querem pagar pela redução das emissões em outros setores, onde é mais barato fazê-lo, e ganhar créditos para emitir na aviação. E, por fim, dizem que, dependendo de como ficar o acordo político, é improvável atingir qualquer meta. Isso porque, segundo o grupo, não é possível contar somente com uma gestão mais eficiente dos aeroportos e a melhoria da tecnologia para reduzir as emissões. "As projeções mostram que as taxas de crescimento do tráfego aéreo em nível mundial irão ultrapassar esses eventuais ganhos da eficiência de combustível ou da melhoria das infraestruturas", afirma Damian Ryan, da ONG Grupo do Clima que integra o AGD. "Daí a importância de estabelecer um mecanismo de comércio de emissões para o setor de modo que as companhias aéreas possam adquirir licenças de outras indústrias que têm excedentes", afirmou.
Para o climatologista Carlos Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o setor deve buscar alternativas - como aviões movidos a biocombustível - e adotar metas audaciosas. "Não se pode pensar em metas mesquinhas em qualquer setor rico como é o da aviação."
(Por Afra Balazina, Folha Online / AmbienteBrasil, 25/06/2009)