Personagem de diversas polêmicas e recentes altercações públicas, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, foi submetido nesta quarta (24/06) a uma constrangedora sessão de ataques pessoais e desagravos aos ruralistas ao longo de cinco horas de retratações na Comissão de Agricultura da Câmara. O clima beligerante entre Minc e os parlamentares começou há quase um mês, quando o ministro classificou os ruralistas de "vigaristas". De cima de um trio elétrico, na Esplanada dos Ministérios, Minc afirmou que os representantes do setor rural aproveitavam da boa-fé dos pequenos produtores para conseguir vantagens aos grandes latifundiários. O substantivo, sinônimo de "velhaco, trapaceiro", provocou a ira de líderes ruralistas no Congresso. Convidado a explicar sua declaração na semana passada, Minc informou que viajaria a Natal (RN). Irritados, os ruralistas decidiram, então, convocá-lo para aplicar-lhe um passa-fora público.
Jogado aos "leões" na arena ruralista, Minc tentou antecipar-se à enxurrada de agressões verbais que viria dos mais exaltados entre os 30 deputados. "Quero ir além do pedido de desculpas. Não penso aquilo. As pessoas eleitas pelo voto não podem ser tratadas com expressão desse jeito", afirmou. Diante do impacto pífio da escusa, tentou ir além: "Invoco como atenuante o calor de um carro de som de uma manifestação, o que pode explicar, mas não justificar".
Mas a humildade do ministro não arrefeceu os ânimos. Ao contrário, instilou mais veneno ao ambiente hostil. "São estes 'vigaristas' que dão comida aos consumidores do seu Rio. Essas desculpas devem ir para os milhões de produtores rurais brasileiros que foram atacados por Vossa Excelência", abriu, dedo em riste, o deputado arrozeiro Luis Carlos Heinze (PP-RS). Acuado, Minc emendou: "Retiro a expressão. Foi indevido, impróprio, incorreto e descabido".
Ninguém se comoveu. E o tom de penitência deu mais combustível. "Dá vergonha ser brasileiro ao ver um homem como o senhor neste cargo tão importante falando do que não sabe e não conhece", discursou o deputado pecuarista Giovanni Queiroz (PDT-PA). "Vossa Excelência não merece o cargo. Deveria sair daqui e pedir demissão". O ministro assentiu com a cabeça e o burburinho se espalhou pela comissão.
(Por Mauro Zanatta, Valor Econômico, 25/06/2009)