O pesquisador Anderson Santi da Embrapa/Trigo de Passo Fundo, acredita que a investigação científica em agricultura deve preparar as adaptações necessárias para as culturas gaúchas nos próximos 15 anos. Segundo ele, as variações climáticas extremas estão ficando cada vez mais frequentes ocasionando grandes prejuízos às lavouras, devido a estiagens, cheias e enxurradas. Preocupada com a questão ambiental, aliada à situação dos produtores rurais e da produção agrícola, a Assembleia Legislativa vem promovendo uma série de reuniões e audiências públicas em todo o Estado, nos últimos meses. Na próxima quinta, dia 25 de junho às 14h, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, participará de audiência pública no Teatro Dante Barone para discutir o tema.
Santi explicou que a pesquisa tem que ser direcionada para essas mudanças, independente de haver ou não um aquecimento global, como tem sido noticiado. Seu colega, Genei Dalmago, explica que os agricultores tem que se adaptar ao que o ambiente oferece. No caso de grande parte do território gaúcho, um solo com uma camada de compactação e precipitações concentradas no tempo. Isso ocasiona enxurradas e, ao mesmo tempo, poucos dias sem chuva tem efeito de uma seca prolongada porque o sistema não consegue armazenar umidade no solo.
A preservação de recursos hídricos e sua utilização com critérios científicos torna-se, para eles, cada vez mais necessária. Os pesquisadores da Embrapa afirmaram ainda que existe a tecnologia para o enfrentamento do problema, mas ou não é repassada, ou é mal compreendida por grande parte dos agricultores. Lembraram ainda que a discussão sobre a reserva legal e o cuidado com os mananciais e micro-bacias estão sendo vistos de uma forma distorcida pelo setor. Uma vez que elas cumprem um papel importante na conservação das áreas remanescentes.
O diretor da MetSul Meteorologia, Eugênio Hackbart confirma a preocupação dos pesquisadores. Explica que secas e inundações são fenômenos extremos de escassez e excesso de precipitação recorrentes na história climática gaúcha. "São riscos constantes que podem ser mitigados. Não haveria necessidade de mudanças de cultura em determinadas regiões, se houvesse investimento em irrigação", disse.
Conforme Hackbart, o Rio Grande do Sul não precisa deixar de plantar soja ou milho por conta das perdas das estiagens recentes, mas trabalhar para evitar perdas futuras por meio da tecnologia existente. Ele criticou a divulgação que tem acontecido de mudanças climáticas: “Falar em mudanças climáticas é um pleonasmo, uma verdadeira repetição. A única constante na natureza é a mudança. O clima está em permanente transformação”.
O meteorologista lembrou que frequentemente se tem associado ao aquecimento global as enchentes e secas que ocorreram no Rio Grande do Sul nos últimos anos, mas observa que na primeira metade do século XX ocorreram secas e inundações piores do que as das últimas três décadas. Ele também criticou pesquisadores em agricultura : “Um pesquisador chegou ao absurdo de dizer que não haveria mais geada em território gaúcho”. Ele afirmou que as previsões de aquecimento para esta década do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU até agora não estão se confirmando. “Houve quem dissesse que os gaúchos não teriam mais invernos frios e o que se viu nos últimos três anos foram invernos rigorosos ou marcados por eventos extremos de frio no Sul do Brasil”, concluiu.
Debates na AL
Preocupada com a questão ambiental e também com a situação dos produtores rurais e a produção agrícola, a Assembleia Legislativa vem promovendo uma série de reuniões e audiências públicas em todo o Estado nos últimos meses. No dia 25 de junho, às 14h, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, participará de audiência pública no Teatro Dante Barone para discutir o tema. A audiência é uma realização da presidência da Assembleia, junto com as comissões de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo, Economia e Desenvolvimento Sustentável e Saúde e Meio Ambiente.
(Por Wálmaro Paz, com edição de Jussara Marchand e colaboração de Marinella Peruzzo, Agência de Notícias AL-RS, 23/06/2009)