Faltam apenas 2 centímetros para que o nível do Rio Negro, em Manaus, supere a marca registrada em 1953 – ano da maior cheia ocorrida na cidade. De segunda (22/06) para terça (23/06), o rio subiu 2 centímetros, alcançando a marca dos 29,67 metros. Os dados são do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Esta é a segunda maior cheia na capital amazonense, desde 1902. De acordo com os registros históricos do Serviço Geológico no Amazonas, as maiores médias no volume do Rio Negro foram registradas nos anos de 1953 (29,69 metros); 1976 (29,61 metros); e 1989 (29,42 metros).
Segundo o supervisor de Hidrologia do Serviço Geológico, Daniel Oliveira, uma equipe do órgão visitará, nesta quarta (24), a cidade de Manacapuru – a cerca de 80 quilômetros de Manaus – para fazer a medição do nível do Rio Solimões. As informações coletadas serão fundamentais para prever como ficará a situação da cheia em Manaus e nos municípios vizinhos. Apesar da alta do Rio Negro, a cidade teve sol forte e registrou altas temperaturas nos últimos três dias. “Se o nível do Solimões já estiver diminuindo, o Negro irá também reduzir nos próximos dias. Isso porque o nível alto do Rio Negro, em Manaus, não é resultado apenas das chuvas, mas também do próprio Solimões, que exerce uma função de represamento sobre o Negro, impedindo a vazante desse rio”, explicou Daniel Oliveira.
As previsões do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) apontam chuvas para os próximos dias sobre a Bacia do Rio Negro e também em Manaus. Na capital, será uma ocorrência localizada. O chefe da Divisão de Meteorologia do Centro Regional do Sipam em Manaus, Ricardo.Dallarosa, ressaltou a importância da relação entre os rios existentes no Amazonas para a compreensão da atual situação. “É importante entender que, enquanto o Rio Solimões, sobretudo, não começar a diminuir, o Negro continuará mantendo um alto nível, independentemente da ausência de chuvas sobre a própria Bacia do Rio Negro”, destacou Dallarosa.
Em Manaus, onde mais de 16,6 mil pessoas foram atingidas pela cheia, a prefeitura e o governo estadual trabalham em conjunto na operação SOS Igarapé Limpo. A ação tem como objetivo a limpeza dos igarapés que, em determinados bairros da cidade, transbordaram em decorrência das intensas chuvas e do acúmulo de lixo. O trabalho é realizado pela Defesa Civil, pelo Corpo de Bombeiros, por funcionários do serviço de limpeza pública da prefeitura e por integrantes das Forças Armadas. As equipes tentam impedir a proliferação de doenças e problemas decorrentes dos resíduos acumulados debaixo das casas. Cerca de 647 toneladas de lixo já foram retiradas das bacias do Educandos e de São Raimundo – dois dos locais mais atingidos pela cheia deste ano.
A cidade tem 11 bairros atingidos, incluindo o centro da capital. Entre os pontos públicos alagados, estão a Ponta Negra, a Feira da Manaus Moderna e a alfândega. Dois abrigos públicos concentram 21 famílias desabrigadas. A maior parte das famílias não deixou suas casas já que a Defesa Civil distribuiu mais de 2 mil kits de marombas, tábuas de madeira colocadas no chão das casas onde os móveis ficam acima do nível da água.
Outra ação da Defesa Civil foi a construção de cerca de 10 mil metros de pontes de madeira em áreas que estão alagadas. Os afetados pela cheia estão recebendo também os cartões SOS Enchente. Com o cartão, cada beneficiado pode sacar R$ 300 para ajuda neste período. Na primeira etapa de entregas, que começou no último dia 13, 4.709 cartões foram distribuídos na capital amazonense.
No último fim de semana, a Defesa Civil realizou novo levantamento para uma segunda etapa de entrega, que agora deve alcançar cerca de 4 mil famílias. De acordo com o secretário de governo, José Melo, em todo o estado, 63 mil famílias já foram beneficiadas com o cartão. Segundo o governador do Amazonas, Eduardo Braga, os prejuízos causados pelas chuvas no estado devem chegar a R$ 380 milhões, incluindo problemas como perda de pastos e plantações, alagamentos e deslizamentos de terra. Ele estará em Brasília amanhã para discutir com o governo federal a operacionalização do plano emergencial de amparo às famílias atingidas pela cheia.
(Por Amanda Mota, com colaboração de Juliana Maya, edição de Lana Cristina, Agência Brasil, 23/06/2009)