Mesmo se pudéssemos limitar o estoque de gases estufa na atmosfera aos níveis atuais, ainda assim, o nível do mar continuaria a subir até 25 metros até o final do próximo milênio. É o que afirma o mais recente estudo [Antarctic temperature and global sea level closely coupled over the past five glacial cycles] sobre os efeitos das mudanças climáticas sobre o as placas de gelo ‘permanente’. Pouco se sabe sobre o montante total da possível elevação do nível do mar em equilíbrio com uma determinada quantidade de gases estufa acumulados na atmosfera. Isto porque o derretimento das placas de gelo é lento, mesmo quando a temperatura sobe rapidamente. Como consequência, as atuais previsões de aumento do nível do mar para o próximo século considera apenas o derretimento potencial de curto prazo.
O montante total do derretimento das placas de gelo, que ocorrerá ao longo prazo, durante milênios, diante das atuais perspectivas de mudanças climáticas, permanece mal compreendido e pouco estimado Neste estudo, pesquisadores do UK National Oceanography Centre at the University of Southampton, ‘reconstruíram’ flutuações do nível do mar ao longo dos últimos 520.000 anos, e compararam com o clima global e os níveis de dióxido de carbono para o mesmo período. Eles encontraram uma estreita ligação entre o dióxido de carbono e a elevação do nível do mar.
Com base nessa relação, a equipe calculou que se a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera for estabilizada nos níveis atuais, a elevação da temperatura , ao longo dos próximos dois milênios, acabaria por conduzir os níveis do mar para uma elevação de até 25 metros. Os pesquisadores, evidentemente, destacam que o aumento não iria acontecer no curto prazo, nem mesmo durante o próximo século, porque seria resultado de um processo muito lento.
Dois estudos publicados no ano passado, sugeriram que existe um limite para o derretimento e para a velocidade com que a água poderia elevar os níveis do mar. De acordo com um, os níveis do mar poderiam aumentar em cerca de 1,3 metros até 2100. No outro, o limite poderia ser superior a 2 metros. Os dados atuais de concentração de CO2 na atmosfera (387 partes por milhão), de acordo com os pesquisadores, é comparável aos níveis da época do Médio Plioceno, 3-3,5 milhões de anos atrás, quando as concentrações atmosféricas de CO2 foram semelhantes aos valores atuais.
Considerando a relação entre a concentração de CO2 na atmosfera e o nível do mar, identificado pelos pesquisadores, pode-se inferir como indicado no estudo, que o nível do mar continuaria a subir para cerca de 25 m acima dos níveis atuais, ou seja, aumentaria para um nível semelhante ao medido para o Médio Plioceno. Este estudo confirma outras pesquisas que indicam que a estabilização dos níveis de concentração de CO2 na atmosfera, mediante planos de metas de emissão, já é insuficiente, tornando-se necessário o desenvolvimento de ações ‘carbono negativas” ou, em outras palavras, que reduzam o CO2 atualmente acumulado na atmosfera.
O artigo “Antarctic temperature and global sea level closely coupled over the past five glacial cycles“, publicado na Nature Geoscience (DOI: 10.1038/NGEO557), de 21/06/2009, apenas está disponível para assinantes da revista ou mediante acesso pago. Para acessar o abstract clique aqui.
(Por Henrique Cortez, com informações do Dr. Rory Howlett, National Oceanography Centre, EcoDebate, 24/06/2009)