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vale do javari indígenas isolados direitos indígenas
2009-06-24

Lideranças indígenas, indigenistas e servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) estiveram reunidos na base de vigilância da Funai no Rio Ituí entre os dias 04 e 06 de junho de 2009 com o objetivo de discutir a situação dramática e que afeta a sobrevivência dos índios isolados que habitam as regiões entre os Rios Itaquaí e o Rio Ituí. Segundo levantamentos da Frente de Proteção Etno-ambiental Vale do Javarí (FPEVJ), Unidade da Funai que atua diretamente com as ações de proteção etnoambientais, “há algo de errado e preocupante” no cotidiano dos índios Korúbo que ainda permanecem isolados nessas regiões do Vale do Javarí. Nas fotos satélites e nos sobrevôos de reconhecimento e monitoramento feitos pelas equipes da Funai, detectaram uma aparente diminuição demográfica, além das malocas e roças, o que pode demonstrar uma série de problemas entre esses índios, como a hipótese de terem contraído “doenças de branco” às margens dos rios Ituí e Itaquaí.

Sabe-se que no entorno das áreas dos índios isolados, ou seja, nos territórios dos Kanamarí, Matís e Marúbo. A malária, a hepatite e outras doenças são endêmicas e pode estar afetando, da mesma forma, os grupos que vivem isolados. As calhas dos Rios Ituí e Itaquaí são meio de acesso para etnias e compartilham o mesmo espaço para caçar, pescar e coletar ovos de quelônios em determinadas épocas do ano. As equipes da Funai, sediadas no interflúvio Itaquaí e Ituí, constataram alguns contatos esporádicos entre os indígenas aldeados e isolados, onde houve a troca de materiais (como alimentos industrializados e roupas usadas), por parte de índios Kanamarí e Matís nas imediações da foz dos rios Coarí e Rio Branco, respectivamente.

Sabe-se que o organismo dos índios isolados, por não estarem expostos às doenças de prevalência comum (gripe, diarréia, conjuntivite...), torna-se vulnerável diante de um contato direto com alguém que esteja doente. Isso poderá levar a completa extinção de uma aldeia. Foi o que aconteceu com os indígenas Matís na década de 70, onde a população dessa etnia foi reduzida a menos de 100 pessoas, de um total de mais de 300 indivíduos na época do contato. Tudo é possível diante de um quadro endêmico que hoje se encontra toda a população dos indígenas aldeados (Marúbo, Mayorúna, Matís, Kanamarí e Kulina).

Segundo o informe da FPEVJ, das nove aldeias catalogadas pela Funai desde os anos 90, apenas uma está “visivelmente” habitada e sem nenhum problema aparente (haja vista a política do não-contato vigente na Funai). As restantes simplesmente estão abandonadas, junto com as roças e não foi identificada nenhuma outra referência que possa apontar para uma possível migração dos Korúbo para outras regiões da reserva.  Enquanto os Korúbo vêm apresentando aparente declínio demográfico, os isolados do Jandiatuba (outra região da T.I. Vale do Javari) estão aumentando demograficamente. Tanto é que o número de malocas e de roças vem aumentando consecutivamente, segundo foi constatado pelo Chefe da FPEVJ, Rieli Franciscato.

Quadro lamentável
Para se ter uma idéia da gravidade sobre a situação de saúde entre os índios isolados, dos 21 indivíduos de recém-contato que são monitorados pelas equipes da FPEVJ, quatro já tiveram contato com o vírus da hepatite. Ou seja, não tem como direcionar uma especificidade, no sentido de adotar uma política de atendimento para os aldeados, contando com uma “parcial proteção” dos isolados que vivem nas cabeceiras dos afluentes que banham o Vale do Javarí.  Da mesma forma que os índios aldeados vêm sendo afetados gravemente por essas doenças, os isolados podem estar sofrendo também, mas em condições muito mais desfavoráveis. Enquanto os demais estão organizados em torno de associações e outras acessibilidades, alguns sabem se comunicar com o idioma oficial; os isolados simplesmente podem estar sucumbindo para a extinção, pela opção de não ter contato com o meio externo. Daí a importância da participação e das conversações entre Lideranças do movimento indígena, indigenistas e as direções local e nacional da Funai.

Apesar dos intensos protestos dos povos indígenas do Vale do Javarí sobre a situação de saúde no interior da T.I., em nível nacional e internacional, a situação do atendimento de saúde no Vale do Javarí ainda persiste de forma crônica e deplorável. Há tempos que esse contexto já se tornou emergencial e urgente, porém, o órgão sanitário responsável pelo atendimento às populações indígenas ainda não conseguiu reverter o quadro lamentável do atendimento nas aldeias. Trata-se de uma situação que já se tornou conhecida a nível mundial, que vêm sendo colocada debaixo do tapete pelas autoridades responsáveis, simplesmente por que os interesses vão além de atender índios. Como se vê, isso é o que menos importa em nosso país de politicagem inescrupulosa.

(Cimi, 23/07/2009)


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