Projeto de 400 bilhões de euros prevê a utilização do potencial solar do norte da África para abastecer o continente europeu, porém há dúvidas sobre sua viabilidade devido aos altos custos e à instabilidade política na região
No que pode ser uma das maiores iniciativas de energias renováveis do mundo, empresas alemãs pretendem estabelecer usinas solares no deserto africano e fornecer 15% da eletricidade de toda a Europa. Com a capacidade total de 100GW, o complexo deve superar em mais de 80 vezes o tamanho das instalações do até então do maior projeto solar em construção, no deserto de Mojave, na Califórnia.
Estudos apontam que se apenas 0,3% do Saara fosse coberto com as chamadas usinas de concentração solar isto produziria energia suficiente para abastecer todo o continente europeu. Para aproveitar esse potencial, empresas lideradas pela seguradora Munich Re querem utilizar a tecnologia das usinas de concentração solar em países como a Tunísia e depois enviar por cabos a eletricidade para a Europa. O projeto está buscando apoio de gigantes como o Deutsche Bank e as fornecedoras de energia RWE e E. ON.
As usinas de concentração solar funcionam através de um sistema híbrido, que utiliza espelhos para coletar e direcionar os raios do sol para tanques com água, com a intenção de produzir vapor. O ar quente é então canalizado para movimentar turbinas que geram eletricidade. Essa energia seria enviada para a Europa por cabos de alta voltagem de corrente direta (HVDC).
Riscos
Segundo uma das incentivadoras e coordenadoras da iniciativa, a DESERTEC Foundation - uma fundação de caridade ligada à Jordânia e à Alemanha – o projeto deve também favorecer as comunidades locais do deserto. Há planos de utilizar o calor das usinas para a obtenção de água potável a partir dos oceanos. A água seria distribuída para a irrigação e para o consumo das populações próximas às usinas.
O presidente da Associação Européia para Energias Renováveis, Herman Scheer, disse que o projeto no deserto é altamente problemático, por causa das tempestades de areia, de ter a participação de países com regimes políticos instáveis e dos altos custos envolvidos. Por sua vez, as empresas alegam que projetos desse porte são a maneira mais rápida para o combate ao aquecimento global. As repercussões do projeto na Europa foram diversas. O jornal Die Tageszeitung levantou dúvidas sobre o futuro de projetos na própria Alemanha. “O problema seria fazer diminuir os investimentos em iniciativas alemãs, como a dos painéis solares nos telhados. Por mais poderoso que seja o sol do Saara, o custo de transportar essa eletricidade não pode ser menor que a produção dela de forma descentralizada em solo alemão”.
Já o Financial Times Deutschland destacou que as empresas já vislumbram a possibilidade de lucro com as renováveis. “É claro que não foi apenas o interesse ecológico que moveu todas essas empresas. Existe a esperança da melhora da imagem junto ao público, mas isto também não seria o suficiente. Este projeto deixa claro que investimentos em energias limpas já fazem sentido economicamente”.
A previsão para o projeto entrar em funcionamento é de 10 a 15 anos e o total de investimentos deve beirar os € 400 bilhões.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 23/06/2009)