A Rússia planeja aumentar em 30% as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) até 2020 dentro de um esquema de metas anunciado na sexta-feira (19/06) pelo Presidente Dmitry Medvedev
O plano reduziria as emissões em 10% a 15% em relação ao nível de 1990, quando a Rússia fazia parte da União Soviética e as suas emissões eram muito mais altas do que hoje. A notícia revoltou ambientalistas, e esta meta também deve ficar muito abaixo das expectativas dos países em desenvolvimento. “Não é suficiente, é muito baixo”, disse o porta-voz russo da organização ambientalista WWF Alexey Kokorin.
O anúncio de Medvedev foi interpretado como o tiro de abertura nas negociações da ONU que tem como objetivo selar um novo tratado climático em dezembro para substituir o Protocolo de Quioto. Nestas discussões, os países ricos devem propor metas a médio prazo para as emissões de GEEs. A Rússia foi o mais recente país, entre os principais, a falar sobre as metas.
Grupos ambientalistas e países em desenvolvimento querem que os países industrializados reduzam as emissões entre 25% a 40% abaixo do nível de 1990, em referência a uma série de cortes sugeridos pelo painel da ONU de cientistas climáticos. “Com base na situação atual para 2020, poderíamos cortar as emissões em cerca de 10-15%”, comentou Medvedev a uma estação de televisão russa, segundo uma cópia dos seus comentários divulgada pelo Kremlin.
O principal conselheiro econômico do Kremlin, Arkady Dvorkovich, esclareceu à agência de notícias Interfax que a redução seria baseada no nível de 1990, antes da queda da União Soviética e do colapso da indústria pesada russa. Desde então, as suas emissões de carbono tem retomado a tendência crescente em paralelo à reativação industrial, preservando a posição russa como terceiro maior poluidor mundial atrás da China e dos Estados Unidos. A meta revelada na sexta-feira significa cortes cumulativos de 30 bilhões de toneladas de GEEs entre 1990 e 2020, disse Medvedev. Isto implica na emissão de cerca de 3 bilhões de toneladas de GEEs por ano em 2020 em comparação com 2,2 bilhões de toneladas em 2007. “Nós não reduziremos os potenciais de desenvolvimento”, anunciou Medvedev.
Sob Quioto, a Rússia tem que retornar as suas emissões para o nível de 1990 entre 2008 e 2012. Grupos ambientalistas e países em desenvolvimento ficaram decepcionados na semana passada quando o Japão lançou as suas propostas para 2020, reduzindo as emissões levemente em relação à meta de Quioto, e receberam outro golpe na sexta-feira após o anúncio russo.
Primeiro passo
Medvedev declarou que a Rússia assumiria uma abordagem responsável em relação aos GEEs, mas que esperava que outros países também o fizessem. “Esperamos que nossos parceiros tomem passos recíprocos. Esta é a razão por eu ter dito muitas vezes que o problema das mudanças climáticas tem que ser lidado por todos ou de jeito nenhum”, disse ele. Posteriormente Dvorkovich adicionou que a Rússia precisa encontrar o “equilíbrio adequado” entre lidar com as mudanças climáticas e alcançar os objetivos de crescimento econômico do país, reportou o Interfax.
Especialistas viram a meta como um primeiro passo em seis meses de discussões intensas que culminarão no novo pacto climático em Copenhague. “É um primeiro passo positivo .... mas espero que outros países exijam reduções maiores da Rússia e que isto incentivará negociações adicionais”, comentou a chefe das operações russas de carbono e desenvolvedora de projetos Nina Korobova. “Acredito que a Rússia possa chegar facilmente a 20% (para 2020) .... mesmo nas situações mais pessimistas”, completou.
Durante a presidência de Vladimir Putin, os principais oficiais russos ligados à Quioto insistiam que não assumiriam cortes obrigatórios sobre as emissões devido aos temores de prejudicar o conforto da classe média e o desenvolvimento das indústrias.
(Por Simon Shuster, Reuters / CarbonoBrasil, 22/06/2009)