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amazônia peruana política ambiental do Peru petróleo na amazônia
2009-06-21

Aprovação popular de nova rodovia e suspensão judicial da busca por petróleo ilustram impasse na Amazônia peruana

Praticamente sem árvores, Tarapoto, cidade imersa na selva, encara problemas na coleta de lixo e falta de saneamento básico. Muitas dezenas dos populares motocars -dianteira de moto colada a uma carroceria para duas pessoas, marca da selva peruana- disputam as ruas estreitas e empoeiradas do centro de Tarapoto. Praticamente não há árvores. Mas é a Amazônia peruana, a 1.490 km da capital, Lima. A Grande Tarapoto, na região (Estado) de San Martín, no norte do país, com 161 mil habitantes, é um exemplo de que a integração e o desenvolvimento econômico da região carregam tensões para além da questão dos direitos indígenas. Nos últimos três anos, a cidade teve de lidar com a construção de uma estrada e com a concessão de um lote para exploração de petróleo, ambas iniciativas afetando área da reserva regional Serra Escalera.

A área é uma floresta úmida onde a cordilheira dos Andes encontra a selva, algo que lembra visualmente a mata Atlântica brasileira. A estrada liga a cidade à vizinha Yurimaguas e faz parte da Interoceânica Norte. Trata-se de uma rota de 955 km que conecta a região ao litoral e é operada por um consórcio liderado pela construtora brasileira Odebrecht, que tem a pretensão de, no futuro, ligar fluvialmente a região a Manaus.

Já o lote petrolífero, que se sobrepõe à reserva, é partilhado pela Petrobras, a espanhola Repsol e a canadense Talismã. As duas frentes são exemplos também de como a versão peruana do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) tem bastante a ver com o Brasil. Um dos eixos centrais do plano é a integração viária e energética com o território brasileiro.

A rodovia ficou pronta em março, não sem antes enfrentar polêmicas ambientais. Mas é a alegria dos que reduziram de até sete horas para duas horas e meia o tempo usado no trajeto, principalmente para Yurimaguas, isolada depois da serra e há 50 anos esperando a benfeitoria. A estrada ganhou até a simpatia de ecologistas locais, que negociaram com a empresa a implementação de alguns projetos para diminuir o impacto ambiental e social da estrada. "Nem tudo foi feito, mas é um começo", diz Marta del Castillo, da principal ONG pró-ambiente da cidade, o Cedisa.

Dilema
Mas são os mesmos ecologistas que lamentam o fato de a rota melhorar tanto o acesso da população como dos madeireiros à área de proteção, o eterno dilema do melhoramento viário da selva, inclusive no Brasil. Enquanto isso, os testes para buscar combustível no lote próximo à cidade estão suspensos pelo Tribunal Constitucional peruano desde abril. Movida pela Cedisa e associações civis locais e depois apoiada pelo governo regional de San Martín, a ação argumentou que a exploração do lote, no trecho da reserva, destruiria a fonte de água da cidade e da região.

O prefeito da cidade, Christopher Sandro Rivera, que apoiou a ação, diz que ainda não há estudos confiáveis sobre o tema. Rivera afirma que a população quer desenvolvimento e que a campanha contra o lote deu certo porque se centrou no tema da água, sugerindo que os tarapotenhos não se sensibilizariam se o tema fosse luta contra o aquecimento global ou defesa da biodiversidade.

A cidade é um centro comercial da região -e vive disso. Tem problemas na coleta de lixo e de saneamento. "Só tem água quando chove. Por isso eu não quero as empresas. Prefiro ter água do que ter emprego", diz Carlos Córdoba, funcionário de um hotel local. Mas o motorista Berman Sánchez ainda sonha com as petroleiras. E aposta que, numa consulta popular, metade da cidade diria sim para elas.

A possibilidade de exploração continua aberta. A decisão da Justiça diz que as atividades estão suspensas até que a palavra final seja dada no plano de administração da reserva que, por norma baixada neste ano por Alan García, tem de passar pelo governo nacional. "Temos um governo extrativista. Se Lima mudar, a nossa mobilização vai ser maior", promete Marta del Castillo.

(Por Flávia Marreiro, Folha de S. Paulo, 21/06/2009)


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