A Polícia Federal afirma que não tem conhecimento de tortura ou excessos na abordagem dos policiais aos índios que invadiram a fazenda em Una (BA), mas diz que um inquérito, a ser acompanhado pelo Ministério Público Federal, foi instaurado para apurar o caso. Segundo a corporação, todas as armas utilizadas na ação foram não letais. O chefe da delegacia da PF em Ilhéus, Cristiano Barbosa, diz que os policiais empregaram "uso progressivo da força" porque os indígenas, armados de facões, resistiram.
Barbosa e o delegado Fábio Marques, responsável pelas questões indígenas, não estiveram na fazenda. Cinco policiais da delegacia foram destacados para acompanhar um grupo de oito policiais do Comando de Operação Táticas. A instituição disse que os policiais utilizaram um instrumento semelhante a uma pistola, chamado taser, arma que emite choques. "Eles [índios] transformaram a utilização do taser, que dá choque, utilizado por todas as polícias do mundo, em tortura", afirma Barbosa.
Quando foram levados para a delegacia de Ilhéus, disseram os policiais, nenhum dos índios reclamou de excesso ou afirmaram ter sido torturados. Questionado sobre as marcas de lesões na região lombar e no pênis de um dos índios, o chefe da delegacia de Ilhéus diz que elas podem ser resultado de confronto. "Infelizmente, é parte do combate. Se na hora da luta, da briga corporal, vai pegar no braço e escorregar no peito, ou se vai pegar na perna, escorregar, e pegar no pênis, essa é outra discussão. Na hora em que está envolvido, é difícil de saber."
De acordo com os dois policiais, há vários inquéritos contra índios da região na delegacia da PF em Ilhéus. "Já não é aquele pessoal que está lutando pela causa indígena, gentil e dócil. Há um histórico de crimes, de incêndios em fazendas. O cenário não é de indiozinhos que estão lá querendo plantar e colher. Diante disso, a PF agiu como tinha que agir", afirmou Barbosa. A PF suspeita de que índios tupinambás sejam os responsáveis pelo assassinato de um funcionário da mesma fazenda invadida, cujo corpo, com marcas de facão, foi encontrado no último dia 26. O caso ainda está em investigação.
(Por Lucas Ferraz, Folha de S. Paulo, 19/06/2009)