O Ministério do Trabalho e a organização não-governamental Ecodata lançaram nesta quinta-feira (18/06), na Câmara dos Deputados, o Programa de Capacitação em Agroextrativismo no Cerrado. O objetivo é aumentar o preparo dos agricultores familiares para que eles melhorem a forma de explorar economicamente os recursos oferecidos pelo Cerrado sem necessidade de devastá-lo. O anúncio foi feito durante o 1º Seminário de Agroextrativismo no Cerrado, que acontece até esta sexta-feira (19) no auditório Nereu Ramos da Câmara. O programa deve beneficiar cerca de 2,5 mil famílias de 60 municípios nos estados de Goiás, Minas Gerais, Tocantins e Maranhão, além de uma das regiões administrativas do Distrito Federal.
Os cursos de capacitação previstos no programa terão carga de 200 horas de aula. Segundo ressaltou o secretário de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho, Ezequiel Nascimento, os cursos devem ensinar formas de tirar sustento do Cerrado sem degradá-lo. Esse aprendizado vai incluir formas de beneficiamento de produtos como bombons e outros doces de baru e pequi, a exemplo dos doces de cupuaçu, açaí e castanha já fabricados e comercializados na Amazônia.
O secretário de Inclusão do Ministério da Ciência e Tecnologia, Joe Viana, observou que existe muita curiosidade no exterior com relação ao Cerrado. Porém, segundo ele, enquanto produtos amazônicos já podem ser encontrados em feiras internacionais, muitas vezes em stands de países como a Alemanha e o Japão, ainda é muito raro encontrar qualquer produto do Cerrado. "Não temos estruturas para qualificação de pessoal e laboratórios para aproveitar melhor o potencial do Cerrado, inclusive exportando mais e melhor", disse.
Políticas
Ezequiel Nascimento reconheceu que ainda falta qualificação no agroextrativismo na maior parte dos estados. De acordo com ele, o País nunca teve uma política pública voltada para o trabalho no meio rural, pois as atenções sempre foram concentradas nos grandes centros. Nascimento disse que é preciso convencer os moradores do campo a verem o Estado como um aliado. "Se a população rural continuar acreditando que é melhor ficar na informalidade, será muito mais difícil qualificar a mão-de-obra", acrescentou.
Ele ressaltou que uma das mais importantes tarefas do governo é preparar a população do interior para agregar valor ao seu trabalho, com uma produção mais cuidadosa, um transporte mais confiável e um controle de qualidade que possam, por exemplo, render para os agricultores do Cerrado o reconhecimento de qualidade e até uma denominação de origem controlada para algum produto especial da região.
Iniciativas
A secretária de Trabalho e Desenvolvimento de Tocantins, Valquíria Moreira, disse que a grande preocupação no estado é de fato com a qualificação da mão-de-obra. Ela ressaltou a importância do programa Troca Solidária, que estimula os produtores rurais do estado a trocarem seus produtos entre eles, em vez de receberem cestas básicas ou algum outro tipo de assistencialismo.
O representante da Secretaria de Agricultura de Goiás, Claudionor Severino, apresentou o projeto Fruteiras Nativas do Cerrado, que sensibiliza e capacita os agricultores familiares para se engajarem em ações de apoio ao desenvolvimento rural sustentável. Foram realizados seminários em 15 municípios da parte central do estado, sempre enfatizando que é possível desenvolver o agroextrativismo sem desmatar o Cerrado. O diretor substituto de Extrativismo do Ministério do Meio Ambiente, Alan Bocato, lembrou das ações que têm sido realizadas para a proteção das cadeias produtivas do babaçu e da castanha do Pará, chamada por ele de "castanha do Brasil".
O evento sobre o cerrado acontece em conjunto com o 3º Seminário de Desenvolvimento Sustentável na Bacia do Alto Tocantins. Ambos são promovidos pela Câmara dos Deputados em conjunto com o Ministério do Trabalho e com a Ecodata.
(Por Juliano Pires, com edição de João Pitella Junior, Agência Câmara, 18/06/2009)