Segundo informações recebidas do Padre Paulo César, da CPT da Prelazia de São Félix do Araguaia, dois sem terra foram mortos a tiros, na manhã desta quarta (17/06) por caminhoneiros inconformados com o bloqueio da BR 158. Desde a semana passada constantes bloqueios da rodovia aconteceram, para chamar a atenção das autoridades para a realidade das famílias dos sem terra. O último bloqueio já durava 48 horas. Os trabalhadores mortos foram: Abiner José da Costa, de 49 anos, e pai de 5 filhos e Edeoton Rodrigues do Nascimento, 48 anos e pai de 5 filhos.
Os manifestantes são trabalhadores que foram despejados da Fazenda Bordolândia, por decisão da Justiça Federal de Mato Grosso, no final de março deste ano em razão de Ação Cautelar proposta pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público Estadual, que alegaram danos causados ao meio ambiente. O Juízo da Primeira Vara Federal da Seção Judiciária de Mato Grosso determinou a retirada de todos os ocupantes da fazenda (clientes e não clientes da reforma agrária), inclusive das famílias cadastradas pelo INCRA, que tinham iniciado os procedimentos para a regularização de seus assentamentos, já haviam plantado roças e aguardavam suas colheitas. Os únicos a permanecerem na fazenda foram os proprietários.
Desde o início do cadastramento das famílias a serem assentadas na Bordolândia foram feitas denúncias da presença de grupos cujos integrantes não correspondiam ao perfil de clientes da reforma agrária; era visível que pretendiam aproveitar-se apenas da madeira ali existente e para tanto destruíam o meio ambiente; várias foram as denúncias, principalmente ao Ministério Público Federal no Estado do Mato Grosso. Pretendia-se que houvesse uma investigação local para encontrar os responsáveis e puni-los.
Numa das vezes em que esteve na presidência do INCRA, o Bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, Dom Leonardo Ulrich Steiner, alertou, verbalmente, que a seleção das famílias a serem assentadas deveria ser acompanhada por agentes da polícia federal para impedir que grupos estranhos, com outros interesses, impedissem o bom andamento do procedimento. É lamentável que o Ministério Público ao pretender a retirada de todos (cadastrados e não cadastrados; clientes e não clientes da reforma agrária), como forma de defender o meio ambiente, não tenha também considerado os princípios constitucionais da defesa dos direitos da pessoa humana.
As famílias despejadas acamparam às margens das estradas da região, em péssimas condições e esperavam uma rápida solução para este impasse. A fazenda Bordolândia, uma área de 55 mil hectares, da Agropecuária Santa Rosa também questionou na justiça os laudos que atestavam improdutividade da área. As primeiras notícias veiculadas pelo Circuito Mato Grosso e o Globo on-line diziam que caminhoneiros em confronto com os manifestantes sofreram ferimentos leves, mas nem sequer mencionaram a morte dos sem terra.
(Ascom CPT / EcoDebate, 18/06/2009)