Segundo PM, motoristas retidos em rodovia entraram em confronto com trabalhadores rurais; outros 2 ficaram feridos. Mortos eram agricultores, que protestavam contra reintegração de posse de fazenda; Incra solicita que local seja desapropriado
Duas pessoas morreram nesta quarta (17/06) e outras duas ficaram feridas a tiros em um confronto entre sem-terra e caminhoneiros em Bom Jesus do Araguaia (cerca de mil km de Cuiabá), em Mato Grosso. A informação é das polícias Militar e Rodoviária Federal e da CPT (Comissão Pastoral da Terra). O comandante da PM na cidade, sargento Fernando Alves Moreira, disse que o conflito ocorreu na rodovia BR-158, onde um protesto de sem-terra fechava o trânsito. Ele afirmou que caminhoneiros retidos no bloqueio entraram em confronto com os agricultores.
Os sem-terra eram ligados à CPT e à Fetagri (Federação dos Trabalhadores da Agricultura).
Ontem, a polícia não tinha detalhes de como se originou o tiroteio. "Só foi me informado que os mortos são sem-terra", afirmou o sargento. Os corpos dos agricultores Abiné José da Costa, 49, e Edelton Rodrigues Nascimento, 48, alvejados com um tiro no tórax cada um, permaneciam na região do protesto no início da noite, no km 340 da rodovia.
De acordo com o padre Rosécio Santana, um dos representantes da CPT na região, as 200 famílias de manifestantes sem-terra aguardavam que policiais fossem até o local para fazer a perícia dos corpos. "As famílias dos sem-terra estão fazendo o protesto há 11 dias na rodovia. Ninguém vem negociar nada aqui. Nem mesmo quando há mortes. É uma omissão por parte de todos, do governo e da própria polícia", disse o padre. De acordo com ele, outros três sem-terra foram feridos a pedradas. Hoje, os manifestantes devem decidir se continuam com o protesto na rodovia.
Reintegração
Segundo a assessoria da Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso, os sem-terra estavam acampados em uma fazenda da região, onde o proprietário conseguiu a reintegração de posse. A secretaria informou que cerca de mil pessoas estavam na propriedade rural e, após serem retiradas da localidade, começaram uma série de bloqueios na rodovia.
Em nota, o Incra de Mato Grosso afirmou que uma equipe do órgão se deslocava no fim da tarde para se encontrar com parte dos sem-terra na Câmara Municipal de Bom Jesus do Araguaia. A fazenda Bordolândia, onde estavam os trabalhadores rurais antes de serem retirados por ordem judicial, tem ações movidas pelo Incra na Justiça para ser desapropriada para fins de reforma agrária.
Além do confronto na BR-158, uma ponte que estava sendo utilizada para desviar do bloqueio foi incendiada por manifestantes. Anteontem, o comandante do policiamento da cidade chegou a ficar refém, sem poder transitar pela estrada, só que pelo grupo de caminhoneiros. "Fui refém deles por cerca de meia hora", disse o sargento. Procurados, os representantes da Fetagri no Mato Grosso não responderam aos recados deixados pela reportagem.
(Por José Eduardo Rondon e Afonso Benites, Folha de S. Paulo, 18/06/2009)