Após alguns anos no papel, o projeto da Companhia Siderúrgica de Pecém (CPS) parece prestes a se tornar realidade. Nesta quarta (18/06), em Fortaleza, em cerimônia de assinatura de memorando de entendimento com o governo do Ceará para instalação do empreendimento, Aristides Corbellini, diretor de siderurgia da Vale, anunciou que as obras da futura usina devem começar ainda este ano. Ele previu a entrada em operação da CPS para o segundo semestre de 2013.
O representante da Dongkuk, sócia coreana da Vale no negócio, Yangl Mun, que é diretor executivo, disse que "apesar da crise mundial não passou pela cabeça da companhia desistir do projeto no Brasil". Este é o primeiro investimento fixo do grupo nas Américas. A meta da coreana com a CPS é estabilizar sua compra de placas de aço. O grupo coreano tem capital aberto e ações cotadas na bolsa de Seul, onde tem sede, e destina boa parte de sua produção a indústria naval de seu país.
A CPS esta planejada para fabricar 6 milhões de toneladas de placas de aço por ano, para exportação, em duas etapas. "Será maior que a ThyssenKrupp CSA, do Estado do Rio, que vai produzir 5 milhões de toneladas" , alfinetou Corbellini, ex- diretor executivo da CSA até o ano passado. A primeira etapa de instalação, para produzir 3 milhões de toneladas/ano, deve começar a operar em 2013, e a segunda, em 2015. O projeto, segundo a Vale informou em comunicado, vai demandar investimento de US$ 4 bilhões na primeira fase. Um estudo da própria CPS calcula o investimento total da usina em R$ 15 bilhões, sendo R$ 10 bilhões na primeira etapa e R$ 5 bilhões na segunda.
Com a aparente desistência da japonesa JFE de ser sócia no negócio, o arranjo societário da CPS tornou-se de controle compartilhado entre Dongkuk e Vale, cada uma com 50% do capital. Em novembro de 2008, a JFE, devido à crise mundial que afetou sobretudo a indústria do aço, informou que poderia cancelar dois projetos de siderúrgicas no Brasil e no Vietnã, caso a demanda continuasse fraca.
A usina cearense será instalada num terreno de quase mil hectares doado pelo governo de Cid Gomes, em São Gonçalo do Amarante, no complexo industrial de Pecém, a 65 km de Fortaleza. No complexo serão instaladas também a térmica a carvão da MPX, de Eike Batista, que poderá fechar acordo com a siderúrgica de suprimento de energia. A ministra Dilma Roussef, que compareceu ao evento, garantiu ainda a instalação da refinaria Premium, da Petrobras, no complexo do Pecém. Cid Gomes (PSB) agradeceu o empenho pessoal do presidente Lula e de Dilma para viabilizar a CPS, que, em suas palavras, "será a redenção do Ceará".
Além do terreno, o governo do Ceará se comprometeu a assumir o processo de licenciamento ambiental da obra e fornecer toda a infraestrutura necessária à operação da usina. O governo vai comprar por R$ 148,3 milhões correias transportadoras e descarregadores de navios do sistema de descarga e transporte do carvão mineral para o complexo industrial e portuário de Pecém, que vão servir à usina e à térmica da MPX.
O projeto da siderúrgica cearense, lançado em 2005, sofreu vários contratempos, pois foi desenhado para uma rota tecnológica com uso de gás. Mas, esta rota foi substituída por alto-forno e coqueria devido à queda de braço com a Petrobras sobre o preço do gás, que inicialmente era previsto para ser subsidiado. Isso gerou revolta da siderurgia brasileira, capitaneada pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). Depois de idas e vindas, a detentora da tecnologia, a italiana Danieli, que seria sócia, desistiu do projeto. Permaneceram Vale e Dongkuk, somadas à promessa da JFE de estudar participação na usina, o que não ocorreu.
(Por Vera Saavedra Durão, Valor Econômico, 18/06/2009)