Conseguir encontrar alternativas que viabilizem um sistema sustentável. Esse é o desafio da agropecuária brasileira, segundo Guilherme Leite da Silva Dias, do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo. Para o professor, os solos pobres dos países da América do Sul dificultam o processo de desenvolvimento da pecuária intensiva. “Estima-se que 70% das áreas da América do Sul possuem solos ruins. A Amazônia, por exemplo, é um mosaico, com solos mais altos, mais baixos, fraquíssimos. Enquanto esse problema não for estudado, o sistema tradicional vai continuar avançando pelo território”, afirmou ele.
Numa comparação entre os ciclos das pastagens tradicional (extensiva) e alternativa (intensiva), é possível verificar a diferença de agressões ao meio ambiente. Segundo Dias, enquanto a tradicional parte do desmatamento da área deixando os solos exauridos de fertilidade através de queimadas graduais, a pastagem intensiva estuda os elementos químicos do solo, promove um equilíbrio através de adubação e alterna a pecuária com o plantio de soja e milho.
Se existe um sistema sustentável que exclui a característica de mobilidade que avança e desmata o território, por que não utilizá-lo? “Por exigir análises técnicas, trata-se de um processo caro, que varia de R$ 1500 a R$ 3000 por hectare”, afirmou Dias. Além disso, precisa ser um processo integrado, pois o pequeno produtor não conseguiria lidar sozinho com a tecnologia moderna. “A cooperativa é um meio de solucionar, mas para tanto seria necessário mudar nossa cultura e ajustar essa idéia de associativismo, pois nossa experiência se reproduz no modelo de assumir a terra e trabalhar sozinho”, concluiu.
“Terra preta”: Memória perdida
As comunidades indígenas que ocuparam o território da Amazônia deixaram modificações na paisagem, hoje observadas através dos sítios arqueológicos. Segundo o arqueólogo Eduardo Góes Neves, estudos já identificam processo civilizatório há 1500 anos na região. Para ele, a presença da “terra preta”, solos altamente fertilizados devido ao acúmulo de material orgânico, desperta evidências de que o solo pobre da Amazônia pode encontrar a solução observando essa história milenar silenciosa.
Integrante do único grupo de arqueologia na Amazônia, Neves acredita que o Brasil ainda não conhece o próprio território. “O agronegócio, a pecuária, a questão energética ameaçam a história da região amazônica e não há capacitação do poder público para defender esse patrimônio nacional”, afirmou.
Para o professor Guilherme Leite da Silva Dias, é necessário resgatar esse conhecimento perdido e explorar as áreas com solos “pobres e ruins”. Para tanto, segundo ele, os núcleos de interesse do governo deveriam caminhar juntos, o que não ocorre atualmente. “O Ministério da Agricultura e o Ministério do Meio Ambiente acham que estão apenas de passagem, um provocando o outro, como se interpretassem papéis numa novela. Resolver os problemas passa a ser secundário, um descompromisso”, disse ele.
(Por Juliana Olivieri, EcoDebate / IHUnisinos, 17/06/2009)