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riscos climáticos emissões de gases-estufa
2009-06-17

Novas pesquisas cientificas sugerem que a mudança climática ocorre a um ritmo superior ao previsto, alertaram especialistas sexta-feira (12/06) e sábado (13) na capital italiana no fórum da Organização Global de Legisladores para o Equilíbrio Ambiental (Globe). “Estamos ficando sem tempo”, disse à IPS Ashok Khosla, presidente da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Khosla foi um dos participantes do fórum, que reuniu cerca de cem legisladores interessados em problemas ambientais dos 13 países que mais contaminam no mundo, bem como numerosos cientistas e especialistas.

Estes países pertencem ao Grupo dos Oito mais poderosos: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia, bem como o grupo das nações em desenvolvimento que mais emitem gases causadores do efeito estufa, que são Brasil, China, Índia, México e África do Sul. A reunião da Globe foi preparatória para a cúpula do G-8 na Itália, entre 8 e 10 de julho, e buscou pressionar os governos para que discutam os termos do convenio que substituirá o Protocolo de Kyoto que expira em 2012.

Katherine Richardson, uma das principais biólogas marinhas que pesquisam o efeito da mudança climática sobre os oceanos, disse à IPS que “os níveis do mar estão aumentando 50% mais rápido do que o esperado pelo Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática” (IPCC). “Se a humanidade não frear a mudança climática no futuro imediato, o nível do mar aumentará pelo menos um metro ate 2010”, agravando as catastróficas consequências já prognosticadas para os assentamentos humanos ao longo das costas, especialmente no mundo em desenvolvimento, afirmou a bióloga.

A acidez dos oceanos também aumenta rapidamente, destacou Katherine. Por isso, “se nada se fizer para deter o aquecimento global, até 2065 nenhuma região dos oceanos terá corais”, ressaltou a especialista. Esta degradação oceânica foi provocada pelo recente aumento das emissões de gases causadores do efeito estufa. “Nos últimos três ou quatro anos, as emissões estiveram acima das projeções estimadas. Desde 1990, aumentaram 17%”, acrescentou Katherine. Pelo Protocolo de Kyoto, os países industrializados acordaram reduzir em 5,2% suas emissões coletivas desses gases, em relação aos níveis de 1990.

O aumento de emissões é dramático porque “as sociedades e os ecossistemas são altamente vulneráveis até mesmo a níveis modestos de mudança climática. Será muito difícil para as comunidades contemporâneas enfrentar um aumento de dois graus na temperatura”, enfatizou Katherine. Por sua vez, Khosla disse que além desses dois graus, não se pode manter a concentração atmosférica de dióxido de carbono em menos de 400 partes por milhão. “Mas, já estamos em 387 partes por milhão. Praticamente não tempos tempo para deter este crescimento das emissões de gases do efeito estufa”.

Para o australiano Ian Dunlop, economista e especialista em energia, apesar do intenso debate sobre como abordar a mudança climática, “até agora praticamente não se chegou a nada. Desde 1972, quando o Clube de Roma publicou seu estudo sobre os ‘Limites do crescimento’ e apresentou o problema do crescimento econômico insustentável, a humanidade demonstra ser incapaz de aceitar que o fator mais importante para sua própria sobrevivência é a preservação de uma biosfera adequada para ser habitada por humanos”, disse Dunlop à IPS.

Dunlop chamou a atenção para o fato de que, devido à atual crise econômica mundial, as nações industrializadas tentam dar um novo impulso ao consumo internacional. “Os governos estão aplicando medidas econômicas concebidas há 80 anos para estimular as velhas indústrias e salvar bancos, e ao fazerem isso estão disparando seus déficits e suas dívidas e, portanto, deslocando seus investimentos em políticas ambientais”, afirmou o economista. Agora, de acordo com Dunlop, o desafio consiste em os cidadãos cobrarem uma mudança dos mundos político e corporativo, e enfrentarem o aquecimento global e a injustiça social.

De outro modo, o novo modelo econômico que integra soluções exaustivas para as interações entre mudança climática, injustiça social e crise econômica, continuará bloqueado por ações governamentais e pelo lobby das indústrias. Ao mesmo tempo, os mais pobres do mundo são as principais vitimas da degradação ambiental associada com a mudança climática e o esgotamento dos recursos naturais que exerce o modelo econômico atual. “Entre três bilhões e quatro bilhões de pessoas estão sobrevivendo em uma paisagem de pobreza, vulnerabilidade e degradação ambiental”, disse Khosla.

Segundo o presidente da UICN, as novas políticas devem aspirar melhoria no desenvolvimento humano nos países mais pobres, para solucionar o que chamou de “paradoxo da mudança climática”. O mundo, “até 2050, terá vários milhões de toneladas extras de emissões de carbono, a menos que as populações mais pobres tenham acesso a níveis superiores de serviços de energia”, acrescentou. Isto só é possível com “desenvolvimento humano sustentável agora, e para todos os habitantes do mundo”, enfatizou.

O economista Colin Bradford, do Instituto Brookings (EUA), também esteve em Roma, onde exortou os governos a “recuperarem as economias de correntes neoliberais”. Após a chegada ao poder da Margareth Thatcher ao poder (1970-1990) na Grã-Bretanha e de Ronald Reagan (1981-1989) nos Estados Unidos, “a economia deixou de ser uma ciência social e se tornou prisioneira dos ideólogos” do livre mercado a qualquer preço, disse Bradford. A crença destes ideólogos de que o livre comércio corrigiria a si mesmo e fixaria adequadamente os preços demonstrou ser errada, disse o economista à IPS.

E isso teve impacto sobre a mudança climática. Por exemplo, com o preço tão baixo do petróleo, este se torna mais competitivo do que as fontes de energia baixas em carbono, afirmou Bradford. Os cientistas coincidem que a queima de combustíveis fósseis produz grandes quantidades de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa, o que constitui a principal causa do aquecimento global e da mudança climática. Os governos devem se libertar da prisão dos mentores do neoliberalismo e “começar a confiar em suas próprias inteligências e análises para lidar manejarem corretamente a crise econômica, ambiental e social”, disse Bradford.

(Por Julio Godoy, IPS / Envolverde, 15/06/2009)


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