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política nuclear
2009-06-17

A Europa ocidental promove a energia nuclear como única maneira de enfrentar a mudança climática e reduzir a dependência do gás russo, mas não pode cobrir os custos que a virada representa. Este ano, em meio à última disputa entre Ucrânia e Rússia pelo gás, funcionários de vários países da Europa central e oriental enfatizaram a necessidade de se passar à energia nuclear. Ao contrário de muitos países no Ocidente, a opinião pública na Europa central e oriental está esmagadoramente a favor da energia atômica. As pesquisas mostram apoio de 88% na Eslováquia e 70% na Hungria.

O público “vê isto como uma maneira de exportar eletricidade, e acredita que a solução é ter grandes centrais. Mas, é preciso investir muito dinheiro que, com sorte, talvez seja recuperado em 30 anos”, disse à IPS Olexi Pasyuk, especialista em energia radicado em Kiev e que trabalha para a organização não-governamental Bankwatch. Os países da Europa central e oriental enfrentarão uma dura competição, já que todos apostam nas exportações de eletricidade, que exigirão ou preços menores ou um enorme apoio estatal. Mas os problemas não acabam aí. “A indústria nuclear mundial sofre falta de pessoal qualificado e instalações para construir todo o equipamento necessário. No máximo, pode construir quatro reatores por ano”, destacou Pasyuk.

Bulgária, Eslováquia, Hungria, Lituânia, Polônia, República Checa e Ucrânia planejam desenvolver mais suas capacidades nucleares. “Na Europa temos varias unidades em construção, que são bons exemplos de como estes projetos são caros e complicados”, disse Pasyuk. Um deles é o de Olkiluoto, no ocidente da Finlândia. Este projeto já sofre atrasos que podem se estender por três anos, um excedente orçamentário de 1,5 bilhões de euros (US$ 2,8 bilhões) e a incapacidade da companhia francesa Areva de cumprir os requisitos finlandeses em matéria técnica e de segurança.

Caso semelhante ocorre na Europa oriental, onde a Bulgária está determinada a completar a construção da usina nuclear de Belene. O custo do reator seria de três bilhões de euros (mais de US$ 4,159 bilhões), mas, dobrou de valor, e os bancos comerciais estão se negando a se envolver. A Ucrânia desenvolve uma estratégia nacional que exige criar 22 novos reatores nucleares, mas os projetos não estão progredindo, e a muito necessária cooperação russa não está chegando. Na Hungria, vários políticos e representantes da indústria querem novos blocos que dupliquem a capacidade de usina nuclear da cidade de Paks, que garante 37,2% da produção energética do país.

Porém, muitos começam a se perguntar de onde sairá o dinheiro, pois cada unidade tem custo estimado de cinco bilhões de euros (US$ 7 bilhões). Os procedimentos o dinheiro, pois cada unidade tem custo estimado de cinco bilhões de euros (US$ 7 bilhões). Os procedimentos para obter autorizações podem demorar até seis anos, e são necessários outros seis para construir uma unidade e formar a mão-de-obra necessária. Eslováquia e República Checa parecem mais determinadas. Os vínculos históricos entre seus setores energéticos estão entre os mais estreitos da Europa, e seus governos tradicionalmente estão próximos do lobby nuclear. “Em quase todas as partes há empresas de energia dedicadas apenas à área nuclear, para as quais fica difícil deixar de funcionar, e tentam persuadir todo o mundo de que são o futuro, reclamando apoio do Estado”, explicou Pasyuk.

No dia 29 de maio, a empresa energética checa CEZ e a eslovaca Javys (Sociedade Estatal para o Átomo e as Radiações) acordaram construir uma nova central nuclear em Jalosvské Bohunice, na Eslováquia ocidental. Prevê-se que entre em operação em 2020. Ali funcionava antes outra usina atômica, cujos dois reatores, de construção soviética, datavam da década de 70 e foram retirados de serviço em 2006 e 2008, devido a compromissos assumidos pela Eslováquia para poder integrar-se, em 2004, à União Européia. Destacando reiteradamente sua condição de deficitária em matéria de energia, a Eslováquia também obteve a aprovação da UE para construir outra usina.

Além de seus enormes custos, a energia atômica tampouco oferece uma solução para quem deseja evitar a dependência, porque a Rússia sempre lhes oferece produzir tecnologia e combustíveis mais baratos, e os países da região dependem de Moscou para tratar do lixo radiativo. A Ucrânia, um dos países que mais subsidia seu setor energético, tentou ceder um quinto do mercado do combustível à empresa Westinghouse pelo período de cinco anos. Mas, logo concluiu que o combustível produzido por essa firma, financiada pelo governo norte-americano, custa quase o dobro do russo e é menos adequado para reatores nucleares construídos majoritariamente com tecnologia russa ou soviética.

Em lugar de gastar milhares de milhões em novas usinas, vários governos da Europa oriental consideram estender a vida útil das centrais existentes. Porem, esta opção também apresenta dificuldades. “A experiência com a extensão da vida útil é limitada no mundo. Todos os reatores são diferentes e especiais, o que significa que estes programas têm de ser projetados para cada reator, e é necessária um estudo considerável e centenas de milhões de euros para cada reator”, disse Pasyuk. “Além do mais, isto não resolve a questão de que, se não for agora, dentro de 15 anos será preciso fechar os reatores e ainda se precisará de dinheiro para tirá-los de serviço”, acrescentou.

Muitos analistas insistem que os governos deveriam investir em incentivos à eficiência energética, mais do que criar uma capacidade produtiva adicional. “Neste momento o gás é um combustível bastante conveniente e competitivo, em termos de soluções imediatas, e é mais amigável com o meio ambiente do que o petróleo e o carvão”, disse Pasyuk à IPS. IPS/Envolverde

Por Zoltán Dujisin, IPS / Envolverde, 15/06/2009)


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