Diante de repercussão internacional, o presidente peruano Alan García resolveu mandar uma equipe governamental até o núcleo da selva peruana para tratar com as principais lideranças e tentar iniciar um novo diálogo. O governo, então, já admite a possibilidade de derrogar dois decretos, o da Lei Florestal (1090) e o da Fauna Silvestre (1064). Em reunião que acontece hoje, o governo se mostrou mais aberto e - segundo informações governamentais - o Estado de Emergência na região de Bagua também seria suspenso. Ainda hoje, o governo informava que o relator especial para assuntos indígenas da Organização das Nações Unidas, James Anaya, confirmou uma visita para averiguar a situação no país. Porém, não mencionava datas. Ainda na semana passada, Anaya fez um apelo a todas as partes envolvidas para que evitassem mais violência e recomeçassem um novo diálogo.
Chamado pelo presidente boliviano, Evo Morales, de "Genocídio do TLC", o massacre em Bagua, no dia 5 de junho, que deixou cerca de 60 vítimas, entre mortos e feridos, continua sendo o centro do conflito que se aproxima de completar dois meses. Na última sexta-feira (12/06), povos da Selva Central, somados aos povos andinos e demais organizações da selva peruana, declararam paralisação indefinida e condenaram o massacre apontando como responsável o presidente Alan García.
Os povos indígenas da Selva Central (cerca de 470 comunidades) que se somaram à paralisação bloquearam, desde o dia 13, as rodovias que ligam as localidades de San Ramón e Tamara. Em comunicado, os povos Ashaninka, Asheninka, Yine, Yanesha, Kakinte, Nomatsiguenga e Matsiguenga afirmam que o presidente nada mais faz do que defender os interesses das multinacionais. "O que fez evidente ao longo destes 55 dias de paralisação amazônica é que sua opção é pela defesa de interesses petrolíferos e mineiros, das transnacionais, em contra dos do nosso país e dos direitos dos nossos povos, ainda que isso lhe tenha significado provocar a chacina com derramamento de sangue inocente e mortes de policiais e irmãos indígenas", afirmaram.
Além de pedirem a revogação imediata dos decretos do Tratado de Livre Comércio que afetam os povos indígenas e seus territórios, o comunicado pede o julgamento do presidente peruano e o fim da perseguição aos integrantes da Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep). "Reiteramos que os únicos responsáveis das lamentáveis mortes são o Executivo e o Congresso. Pedimos que o presidente da República, Alan García, seja julgado por isso. Pedimos a renúncia imediata do presidente do Conselho dos Ministros, Yehude Simon e das ministras do Interior e da Justiça, Mercedes Cabanillas e Rosario del Pilar Fernandez, porque mostraram sua incapacidade para atender a justa demanda indígena e solucionar o conflito sem ferir os direitos fundamentais".
(Adital, 15/06/2009)