Alstom vai investir em usinas eólicas. Governo fará 1º leilão em novembro
No momento em que o Brasil enfrenta entraves para a construção de novas usinas hidrelétricas, a energia eólica — gerada pelos ventos — surge como uma importante opção complementar. Se num primeiro momento pode parecer mais cara, no longo prazo, ela tende a ser mais competitiva do que a térmica a óleo, que tem custo elevado do combustível e é altamente poluente. Esta é a opinião do presidente mundial da Alstom Hydro, Philippe Cochet, que falou ao Globo durante visita recente ao país.
Com projetos em carteira que somam 45 bilhões de euros, a Alstom é uma das maiores fabricantes do mundo de equipamentos e prestadora de serviços para geração de energia. No Brasil, cerca de 50% de toda geração de energia têm equipamentos da Alstom. Para Philippe Cochet, o Brasil precisa desenvolver o grande potencial eólico que possui, principalmente no Nordeste.
— É importante o país ter uma matriz energética diversificada, com fontes complementares à hídrica. E a melhor energia complementar é a eólica, mais limpa e que no longo prazo tende a ficar cada vez mais barata — destacou Cochet.
A Alstom está disposta a investir pesado na energia eólica no Brasil. A companhia já montou um departamento que vai desenvolver projetos eólicos com tecnologia e equipamentos e oferecer pacotes prontos aos investidores — A companhia tem um departamento para identificar o potencial adequado para gerar energia eólica, preparar o projeto e depois encontrar um interessado — disse.
Hoje no Brasil o custo da tarifa da energia eólica ainda é elevado: nos leilões sai por cerca de R$ 200 o megawatt (MW), contra R$ 140 o MW de uma térmica a óleo. Segundo Cochet, a tecnologia está avançando rápido e reduzindo custos.
Para governo, leilão terá preços competitivos
Cochet disse que a Alstom está investindo pesado em desenvolvimento tecnológico. Além disso, segundo o executivo, as térmicas a óleo tendem a ter custo mais elevado de operação porque usam combustíveis derivados do petróleo. O custo de uma usina a óleo, ao longo da operação, chega a R$ 400 o MW.
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, anunciou por sua vez que o governo vai realizar em novembro o primeiro leilão de energia eólica do país. O edital com as regras está em elaboração. Tolmasquim destacou que o objetivo desse primeiro leilão é justamente conhecer melhor o mercado potencial brasileiro e dar início a projetos. O potencial gerado com energia eólica no Brasil deve ser bem maior do que os 143 mil MW estimados atualmente, disse.
— Minha expectativa é que teremos muitas empresas inscritas para o leilão, e que a oferta de energia será grande. O leilão terá a vantagem de revelar o verdadeiro preço da eólica no Brasil — disse.
Para o presidente da EPE, apesar de, num primeiro momento, o preço da energia eólica ainda ser um pouco superior ao de outras energias, como de gás natural ou mesmo a óleo, a tendência é seu custo cair gradativamente. Já no leilão, Tolmasquim espera preços mais competitivos: — Vamos desenvolver o potencial no Brasil, numa proporção que permita criarmos uma pequena indústria no país, acompanhar o estado da arte tecnológico sem onerar o consumidor.
(Ramona Ordoñez, O Globo / Jornal da Ciência, 14/06/2009)