(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
gestão de resíduos política nacional de resíduos aterros sanitários
2009-06-13

Muitas polêmicas estão acesas em torno do lixo. Que se deve fazer? Reduzi-lo? Reaproveitá-lo? Reciclá-lo? Depositar em aterros? Ou incinerar e com ele gerar energia? A(s) resposta(s) depende(m) de muitos fatores, a complexidade é grande. Mas a urgência também é enorme. Muitas das grandes cidades brasileiras (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Curitiba, entre outras) estão com seus aterros esgotados. E implantar outros é muito difícil: exige terreno grande, que não seja distante (para não encarecer o custo do transporte), mas não tenha moradores na vizinhança; lençol freático profundo, para não ser contaminada pelo chorume; sistema viário amplo; ventos favoráveis, para não incomodar com o cheiro comunidades próximas.
 
Mas não se pode demorar com as decisões. Uma em cada três cidades do interior de São Paulo com mais de 100 mil habitantes está com o aterro esgotado (Estado, 15/3). Vinte por cento dos aterros paulistas (42 lixões) são irregulares (Estado, 26/5). Segundo levantamento do IBGE (2002), mais de 50% das 230 mil toneladas de resíduos domiciliares e comerciais recolhidas a cada dia no País vão para lixões a céu aberto. Pouco mais de 40% chegam a aterros, embora os realmente adequados sejam apenas 11%. Nossa situação só não é ainda mais dramática porque, segundo o Cempre (Compromisso Empresarial pela Reciclagem), os catadores de lixo encaminham para empresas recicladoras a quase totalidade das latas de bebidas descartadas, 33% do papel e papelão, 46% do vidro, 16,5% do plástico. Uma medição feita na cidade de São Carlos, SP, mostrou que, sem os catadores, o volume de lixo encaminhado para aterro aumentaria 39%.
 
Até aqui, fala-se em lixo domiciliar e comercial, sem incluir resíduos industriais, de estabelecimentos de saúde, lixo tóxico, radioativo. E resíduos da construção civil, que costumam ter volume maior que o domiciliar/comercial. Na cidade de São Paulo, por exemplo, fora as 2.500 toneladas diárias recolhidas, há 1.400 postos de despejo irregular desses resíduos (Estado, 2/2) e 3 mil toneladas são simplesmente jogadas nas ruas a cada dia. Quase metade das 29 mil caçambas cadastradas estão em situação irregular. E o desperdício dos materiais em geral é impressionante. Estudo da Universidade Estadual Júlio Mesquita Filho em Sorocaba mostrou que 91% das 135 toneladas diárias (54% de materiais orgânicos) aterradas na cidade de Indaiatuba (175 mil habitantes) poderiam ser reutilizadas ou recicladas.
 
O custo do desperdício é enorme. Mesmo que se adote média baixa para o preço da coleta e destinação, no País gastam-se por dia pelo menos R$ 12,8 milhões e por ano, R$ 3,86 bilhões. Mas não se tem solução à vista. O projeto de Política Nacional de Resíduos Sólidos, em tramitação no Congresso, mesmo que se aprove o último substitutivo, pouco ajudará. Só torna obrigatória a devolução de embalagens no caso de agrotóxicos, pilhas e baterias, bulbos fluorescentes, pneus e aparelhos eletroeletrônicos - uma fração reduzida do lixo, sem incluir o lixo orgânico e a maior parte dos produtos industriais.
 
A reutilização de materiais dependeria de coleta seletiva, que é muito pequena no país todo e em pouquíssimos lugares inclui a separação obrigatória (entre orgânicos e inorgânicos) nas casas, lojas e escritórios; encaminhamento para usinas de reutilização e reciclagem; compostagem do lixo orgânico (para transformá-lo em fertilizante); transformação do que for possível (papel e papelão em telhas revestidas de betume e PVC em mangueiras pretas são alguns exemplos); e venda de materiais (vidro, latas, metais, etc.) a recicladoras. Assim se consegue reciclar/reutilizar até 80% do lixo e economizar o equivalente do espaço nos aterros. Mas, a coleta seletiva, quando existe, é quase só em contêineres nas ruas, com baixa adesão da população. E a reciclagem em usinas públicas é baixíssima (em São Paulo, menos de 1% do lixo).
 
Nos países que mais conseguiram avançar no setor, todo gerador de resíduos (domiciliar, comercial, industrial, de construções) é obrigado a separar pelo menos orgânicos de inorgânicos; paga pela coleta e pela destinação (que pode ser reutilização, reciclagem ou incineração); quase não há mais aterros.
 
Mesmo aí, entram em cena problemas e contradições. Se uma boa política recomenda em primeiro lugar a reutilização de materiais, como entender, por exemplo, a incineração, mesmo para gerar energia? Depois, é preciso lembrar que é um caminho caro. E ainda aceitar que, nesse processo, vai-se precisar de cada vez mais lixo. Não bastasse, é preciso ressaltar que se trata de processo que exige o uso de altas temperaturas, acima de 900°C, para evitar na queima - principalmente de orgânicos - a emissão de dioxinas, furanos e outros gases altamente perigosos para a saúde humana. Mas não há dúvida de que a incineração economiza o espaço cada vez mais difícil nos aterros. No Rio de Janeiro, está em andamento projeto-piloto da Universidade Federal e de uma empresa privada, que daqui a dois anos começará a incinerar resíduos a 1.000°C. Mas já começa a receber críticas da associação das empresas de limpeza pública, que apontam o "desperdício" de materiais.
 
O outro lado, entretanto, lembra que nos Estados Unidos, no Canadá e em outras partes as municipalidades têm de destinar parcela cada vez maior de seus orçamentos ao lixo, porque têm de transportá-lo e depositá-lo a distâncias cada vez maiores. Como em Nova York, Toronto e outras. Até Belo Horizonte já leva seu lixo para outros município, a 60 quilômetros.
 
A conclusão é de que o ideal é educar a população para que tente reduzir o lixo que produz. Reutilizar o que for possível. Ter sistemas eficientes de reciclagem, para o que não for possível. E, no fim do processo, aterrar ou incinerar (esta opção, em condições seguras) - fazendo as contas completas para saber qual das duas últimas alternativas custará menos à sociedade, em termos ambientais e financeiros.

(Por Washington Novaes, O Estado de S. Paulo / IHUnisinos, 07/06/2009)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -