Governo havia vetado principal associação da selva em fórum; manifestantes exigem troca de ministros
Horas depois de promover o primeiro encontro do recém-criado Grupo Nacional de Coordenação para o Desenvolvimento dos Povos Amazônicos sem a principal associação indígena do país, o governo Alan García recuou e informou nesta sexta (12/06) que aceitará dialogar com os líderes dos protestos que sacodem o país há mais de dois meses. Lima havia anunciado anteontem que a Aidesep (Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana), que existe há 30 anos e representa cerca de 300 mil indígenas, estava excluída do novo grupo, que debaterá um plano de desenvolvimento da Amazônia. García responsabiliza a entidade pelos confrontos no norte que causaram ao menos 34 mortes em 5 de junho, segundo cifras oficiais.
O governo conservador de Alan García criou o novo fórum para tentar aplacar a crise política provocada por mais de dois meses de protestos do movimento indígena contra um pacote legal pró-investimentos na selva baixado sem consultar a população originária. Mas, se o governo recuou, a Aidesep ainda exige que García troque os interlocutores na negociação. O pedido vira pressão explícita do Partido Nacionalista (do candidato vencido por García em 2006, Ollanta Humala) pela queda do presidente do Conselho de Ministros (premiê), Yehude Simon.
Na quarta, o Congresso aprovou a suspensão por prazo indeterminado de dois decretos aos quais o movimento indígena peruano se opõe, mas a Aidesep exige que eles sejam revogados. Falando a empresários, o presidente Alan García manteve o tom duro e disse que o "comunismo internacional" está por trás dos protestos e quer provocar o caos. Ontem, a Defensora do Povo (ouvidora pública), Beatriz Merino, criticou a falta "vontade política efetiva" dos dois lados. Atacou o veto à Aidesep, horas depois revertido.
No sudeste, manifestantes camponeses interromperam ontem a principal estrada de acesso ao aeroporto da cidade andina de Andahuaylas, na região (Estado) de Apurímac. Os participantes do protesto chegaram a ocupar a pista de pouso. Em Andahuaylas, de 34 mil habitantes e próxima da turística Cusco, lojas e restaurantes não abriram as portas pelo segundo dia, temendo saques.
Manifestantes que há semanas bloqueiam a estrada de 130 km que liga as cidades de Tarapoto e Yurimaguas, no norte do país, permitiram a passagem de caminhões por duas horas pela manhã e mais duas à tarde. As duas cidades, a 1.000 km de Lima, já sofrem desabastecimento, que provocou alta nos preços de comida e gás. Em Yurimaguas, além da estrada, os indígenas tomaram um porto no rio Huallaga.
(Folha de S. Paulo, 13/06/2009)