Manifestação em Lima é dissolvida com bombas de gás lacrimogêneo
Milhares de indígenas, estudantes e membros de sindicatos protestaram nesta quinta (11/06), em diversas regiões do Peru, para pedir a anulação da lei que permite a exploração de gás e petróleo na Amazônia peruana. Na quarta-feira, o Congresso do Peru suspendeu essa lei por 90 dias para apaziguar os indígenas, que estão bloqueando estradas há mais de um mês. Para os nativos, porém, a suspensão temporária não é suficiente para o início do diálogo.
Em Lima, uma passeata organizada pela Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGT) em solidariedade aos indígenas foi dissolvida por policiais com bombas de gás lacrimogêneo nas proximidades da sede do Legislativo. Segundo testemunhas, algumas pessoas foram presas, mas a informação não foi confirmada. Os indígenas fizeram manifestações na região amazônica e receberam apoio de diversos grupos em localidades andinas (como Ayacucho e Arequipa) e da costa (como Ica). Em Puno, a sede do partido governista Apra foi apedrejada.
Segundo os indígenas, a lei permite a expropriação das riquezas de suas terras por multinacionais. Numa tentativa de reduzir a tensão, o governo anunciou pela manhã uma comissão de diálogo para estudar as demandas, mas excluiu do grupo a maior organização indígena do país, a Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep).
Políticos opositores pediram a saída de ministros criticando o modo como o governo do presidente Alan García agiu durante a desobstrução de uma estrada em Bagua, na sexta-feira. Na ocasião, os choques entre policiais e indígenas deixaram 34 mortos [de acordo com fontes oficiais]. O episódio fez com que o Peru fosse criticado pelos vizinhos e abriu a maior crise enfrentada pelo governo García.
As relações com a Bolívia foram abaladas - já estavam tensas desde que o Peru concedeu asilo político a três ex-ministros bolivianos, processados em seu país por responsabilidade na morte de mais de 60 pessoas durante uma onda de protestos em 2003. Nos últimos dias, Lima acusou o presidente boliviano, Evo Morales, de incitar a revolução indígena no Peru e mencionou uma mensagem que teria sido transmitida por Evo a nativos peruanos num encontro de movimentos sociais em Puno. Em resposta, Evo acusou ontem o governo peruano de humilhar os indígenas e disse esperar que os recentes choques no Peru sejam "uma lição" para García.
(O Estado de S. Paulo, 12/06/2009)