A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta quinta (11/06) que a gripe suína tornou-se uma pandemia, na primeira vez que faz isso em mais de 40 anos, após um adiamento de semanas, por temer provocar um alarme desnecessário. "Os critérios científicos para uma pandemia do [vírus] influenza foram cumpridos. Desse modo, eu decidi aumentar o nível de alerta da fase 5 para a fase 6", disse Margaret Chan, diretora-geral da OMS. "O mundo está agora no começo da pandemia do influenza de 2009." A fase 6, o nível máximo na escala de alerta de pandemias da OMS, significa que a cepa da gripe suína está se espalhando pelo mundo todo. Não se trata de uma medida de gravidade.
Chan disse que com base nas evidências colhidas até agora, a pandemia será de "gravidade moderada". A OMS vai manter suas recomendações contra as proibições de viagens e outras restrições. A OMS também decidiu não recomendar uma mudança na produção de vacinas, voltada para o vírus sazonal da gripe, para a cepa pandêmica. A produção de vacinas para a gripe sazonal estará concluída em breve, disse Chan, o que possibilitará em seguida que toda a capacidade de produção seja voltada para a vacina pandêmica. A agência diz que os medicamentos antivirais como o Tamiflu até agora se mostraram eficientes para a minoria dos pacientes que precisaram de tratamento.
A decisão de declarar a fase 6 foi tomada depois de uma reunião do grupo de médicos da OMS especializados na gripe suína. O gatilho provavelmente foi a confirmação pela Austrália de um surto generalizado da gripe suína no Estado de Victoria. Pelos critérios da agência, as condições de desencadeamento da fase 6 foram atingidos há alguns dias: a existência de um novo vírus da gripe que estava se espalhando entre as pessoas em duas partes diferentes do mundo. Mas funcionários da OMS vinham tendo problemas para administrar as reações e conter o pânico, ou uma reação exagerada da população, para quem uma "pandemia" implica uma infecção altamente letal, e os governos, muitos dos quais vinham preparando respostas a uma forma mais grave do vírus.
As autoridades terão que enfrentar as avaliações locais de como mudar as abordagens de tratamento, seja impondo medidas de quarentena como o fechamento de escolas; e como lidar com o impacto do vírus e das políticas adotadas por países vizinhos, que podem variar bastante. Não há dúvidas de que o vírus da gripe suína A/H1N1, identificado este ano no México, é uma nova infecção que desde então se espalhou pelas Américas e agora chegou à Austrália. Até agora, cerca de 30 mil casos foram confirmados oficialmente em pelo menos 74 países, mas é provável que muitos não tenham sido identificados. Essa incerteza torna difícil julgar a gravidade da infecção. Pouco mais de 140 mortes foram confirmadas até agora, mas sem um conhecimento mais claro do total de infecções ocorridas, é impossível ter um número exato de mortes.
A conclusão provisória é de que esta pandemia é "moderada": menos grave que a da gripe espanhola em 1918, mais parecida com a de 1957 e talvez até quatro vezes mais perigosa que uma gripe sazonal típica, que a cada ano mata cerca de 500 mil pessoas ao redor do mundo. Isso não significa que ela deva ser menosprezada. Em algumas comunidades, a gripe suína tem sido severa, especialmente no México e entre populações indígenas do Canadá, o que está levando à hospitalização de números significativos de pessoas. Isso pode sugerir que fatores genéticos, outras doenças e acesso ruim a cuidados de saúde também podem ter um impacto nas contaminações.
(Por Frances Williams e Andrew Jack, Financial Times / Valor Econômico, 12/06/2009)